Casamento, filhos e felicidade: para nenhum deles ter um príncipe é obrigatório
Dia destes, ao assistir uma série sobre perfil da mulher moderna, ouvi uma das entrevistadas dizer que precisava se apressar para encontrar o príncipe encantado. Ela está com mais de 30 e tem medo de perder a corrida contra o tempo do relógio biológico. A estatística de que a partir dos 35 a chance de uma gravidez natural cai drasticamente a espanta, só que nada do homem ideal aparecer para realizar o desejo dela de ser mãe.
Foi aí que pensei se ela sonha se casar mesmo ou se quer ter o pai do filho por perto. E nenhuma coisa nem outra têm a ver com príncipe. Tenho certeza de que pessoas perfeitas não existem e que se existem deve ser pra lá de chato conviver com alguém certo demais. Em um relacionamento, o que a gente precisa é aprender a conviver e evoluir com o outro. Para ser mãe, um homem que aja como ser humano, que assuma o filho e muito mais que isso: esteja por perto para dar atenção e amor é mais importante que um marido, se ele não for bom pai.
Mas o pensamento dela, por um lado, é lógico, já que a presença paterna é mesmo muito importante. Além disso, infelizmente, acontece demais de os pais solteiros serem pouco presentes. Ter o pai do filho como marido, na mesma casa, aumenta a chance de ele dar mais atenção, claro. Porém, não garante que ele seja um bom pai nem um bom marido. Correr contra o tempo só para preencher o “pré-requisito” casar para ser mãe aumenta as chances de escolher mal, pelo menos eu penso assim.
Deve ser por isso que há menos de 10 anos eu e uma amiga falávamos do futuro. Se não encontrássemos um amor para casar até uns 30 e poucos, teríamos um filho, com ou sem marido. Nada de priorizar um ou outro, mas as duas possibilidades pareciam boas até então. Ironicamente eu fiz uma coisa – casei e ela a outra – teve um filho. Estranho é que as duas notícias, sobre o meu casamento e a gravidez dela, deixavam as pessoas no mínimo surpresas. Fiquei “noiva” em abril e iria me casar em dois meses, só não foi no tempo determinado por causa de alguns imprevistos, o casório saiu com quatro meses.
Ela ficou grávida “sem esperar”, nem namorava. Hoje, nós duas temos a certeza de que o melhor nos aconteceu. Como planejado, encontramos pessoas legais, ela para ter um filho e eu para casar. E foi tudo muito de repente. Só que o povo insiste na junção casamento-filho ou filho-casamento. Quando anunciei a cerimônia já me perguntavam se eu estava grávida e sempre questionam se minha amiga vai se casar com o pai do filho.
Atualmente, confesso, não tenho ideia de quando terei filho. O casamento mudou minha vida para melhor, mesmo sem o planejamento de um noivado de anos, e a ausência de filhos permitiu que eu seguisse meu caminho profissional.
Minha amiga também está pouco preocupada em casar. Querer até quer. Mas esse lance de preocupar deixa a gente muito míope. O melhor, creio, seja viver e ficar atenta ao que a intuição diz. Uma hora um cara imperfeito vai vir e mostrar que seria legal dividirem a vida. Ou não, ficar sozinha, aproveitar as delícias da vida de solteira já seja o suficiente. Talvez a mulher até tenha um namorado, mas sem planos de formalizarem nada, um em cada canto já tá de bom tamanho.
As pessoas têm dificuldade de entender, mas casamento, filhos e felicidade podem não ter relação nenhuma com príncipes. Primeiro porque eles sequer existem (só nas monarquias), segundo porque para ter filho precisamos de pais conscientes, mais do que de um casamento. Terceiro porque casamento é a arte de saber e conviver com os defeitos e mesmo assim ficar bem. E por último, porque simplesmente ter alguém pode não trazer nada de felicidade, filho por obrigação e casamento também. É bom lembrar que felicidade é um conceito complicado de definir, exatamente porque para cada um ela se apresenta de um jeito. É preciso olhos atentos para enxerga