Casa de mãe e pai
A casa do meu pai e minha mãe parece me abraçar. Cada centímetro me acolhe como filha que acabou de ser concebida, sendo preparada para os desafios fora do útero. Qualquer choro tem acalanto. O pão é posto na mesa antes mesmo de eu ter fome. E o apetite se abre para o sabor de infância, de me alimentar sem o olho no próximo compromisso ou na conta presa por um ímã na geladeira a espera de pagamento. Fico ligada novamente ao cordão umbilical que me torna um par com minha mãe.
Fico mesmo com o tédio de uma casa interiorana e o cansaço do descansar. Recuso convites para sair, coloco o mundo no mudo e ouço só o que há dentro de mim. A Terra continua a girar impiedosamente, mas eu gosto de ver tudo na minha quietude. Os problemas continuam a existir, menos os que são da mente, dou mais paz aos pensamentos e emoções.
Na casa dos meus pais eu não preciso de muito e tenho tudo sem pedir: pão, paz, carinho. É lugar tão mágico que mesmo sem eles por lá, o sossego chega para a alma.
Dia desses, descobri que há mais gente que prefere o calor do lar do que qualquer agito do lado de fora. Convidei um amigo para me visitar nas férias. A resposta foi que só tinha mais uns dias, dos 30 que já estava por lá, para ficar na casa dos pais. Todo mundo parece precisar de tempos em tempo de retornar à casa-útero. Porque ir para casa de pai e mãe é voltar ao básico, ao que a vida de gente grande rouba com frequência: alimentação com calma, noites tranquilas, aconchego, descanso, amor de verdade.
Vivem insistindo pra todo mundo sair da zona de conforto, mas às vezes é preciso ir para o lugar mais confortável que existe para juntar forças, reafirmar valores e pensar com clareza no que se quer. Em um lugar que prega a pressa, há de se ter muita coragem de parar tudo e pedir arrego nem que seja por um domingo sem medo de ser chamado de fraco, criança, covarde! Voltar para pai e mãe é retornar ao básico e mais necessário que existe.