Capela
Esses dias eu tava vendo o último episódio de Homeland – recomendo, inclusive – e a protagonista, Carrie Mathison, está num hospital e pergunta onde fica a capela. Óbvio que o momento é de tensão e alguma dose de desespero, e ela, que não tem lá muito histórico religioso, procura o local.
Pelo que enxergo na cena seguinte, ela não está propriamente em busca de conexão com Deus – ao menos não com o Deus cristão. Ela vai lá atrás de conforto! Isso me fez pensar na diferença das capelas com as igrejas.
A igreja costuma ser grande, não é? Templos profundos, espaçosos, projetados pra receber muita gente. As capelas são diferentes. Uma capela não é feita pra multidões. Elas são lugares pequenos, intimistas, reflexivos.
Eu não me lembro de já ter visto aquelas expressões efusivas e barulhentas, comuns em igrejas, dentro de uma capela. Ali a coisa é mais silenciosa, mais leve, bem mais particular que numa celebração tradicional.
O bacana das capelas é que as representações religiosas também são menores, às vezes. Dá pra entrar em uma e procurar a própria ligação com aquilo que entende por espiritualidade – independentemente das religiões.
Não é exclusividade do Brasil, mas matrizes cristãs, maioria aqui, têm uma profunda dificuldade em aceitar o exercício de fé sem Deus. Ao menos sem o Deus da Bíblia. O que de nenhuma forma diminui a importância ou o contato estabelecido entre aquela pessoa e a energia cósmica na qual ela acredita.
É interessante que, como a capela é muito mais voltada pro ‘eu’ e não pro ‘nós’, a ausência dos discursos impositivos na capela permite uma relação íntima com o próprio amor. Se na igreja os discursos de ódio conseguem aparecer, ainda que travestidos de pregação, na capela não dá.
Até por serem pequenas, as capelas não têm espaço para a propagação daquilo que não seja positivo, reconfortante, agradável. Nos hospitais, como naquele em que Carrie estava, capelas são locais de choro e de recuperação – física e espiritual.
Não é que as capelas sejam lugares de gente egoísta, porque também é impossível uma experiência espiritual sadia sem abnegação, empatia e generosidade. É só a relação mística que se estabelece de maneira mais íntima – e talvez mais espontânea. Acho que eu preferiria se a gente tivesse mais capelas e menos igrejas, sei lá…