Meu caminho da roça

Meu caminho da roça

Eu sei o caminho, mas o desconheço. Ele nunca é, está, pois cada vez que passo por meu caminho da roça me surpreendo. Caprichosa, a natureza tratou de ser uma artista que sempre muda a obra, como se fosse imperfeita. Desconfio que para fazer da vida de quem não pode sair de onde nasceu ou está em uma viagem cheia do sabor que o novo tem. Ou ainda para tornar os passeios aos lugares onde sempre devemos voltar mais bonitos.

Hoje, ao ir para a roça da vó foi assim, era como se eu passasse por uma estrada nova. É um caminho que faço desde que nasci, há 30 anos. Nunca é monótono. Até mesmo da hora que chego até ir embora o quadro muda. São vacas no pasto com flamboyanttransformações que só quem tem olhos bem alertas vê.

Nessa mais recente ida ao sítio nem precisei observar tanto, as plantas estão sorridentes depois das chuvas primaveris. Os galhos das árvores na ladeira a caminho do sítio formaram uma alameda florida. Tons rubros do flamboyant alcançaram o amarelho da sempre lustrosa e o verde revigorado.

As alamedas do portão do sítio até a casa ganharam novas cores também. Os numerosos flamboyants, novamente eles, numerosos na primavera do cerrado, abraçaram o jacarandá. Ele, com seu lilás imponente, também formou um tapete, como se fizesse as honras já perto da entrada da casa da vó.

E para completar a beleza do caminho, encontro algo que nunca muda, graças a Deus, minha avó na porta da cozinha com os braços abertos, comida no fogo, uma vontade grande de falar sobre as notícias dos jornais e as novidades da vida. Às vezes causos nem tão novos assim voltam para a conversa. Mas deixo eles serem contados, toda vez que escuto, me emociono ou gargalho como se fosse a primeira vez.

E quando volto para casa (ou saio de casa), já na boca da noite, o caminho já é outro. A lua, cheia, sai por detrás da casa dos passarinhos e dá um banho prata na paisagem. Não enxergo mais o vermelho dos Flamboyants, o lilás dos Jacarandás, miro estrelas, mais brilhantes por ali.

 

Escritor por Talita Camargos Veja todos os textos deste autor →

Talita Camargos é jornalista e flerta com a literatura, procura inspiração em conversas de ônibus, flores, familiares e amigos. Idealizou o Texto do Dia e publicou nos 365 dias de 2015 neste blog como desafio pessoal.

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