Bento Rodrigues: a força das cidadezinhas

Bento Rodrigues: a força das cidadezinhas

Cidades pequenas são empáticas, choram a dor do outro, dão abraços e falam o que acham que o conterrâneo deveria fazer, mesmo que seja um palpite furado. O luto de uma família consegue contagiar a cidade inteira. A doença de um coloca terços nas mãos, orações no fim de noite de toda cidadezinha. Todo mundo se conhece e quando não, ao menos um parente muito próximo de quem foi vítima de algo ruim.

Vivenciei dores que o distrito de Ibitira sentia durante toda infância e parte da adolescência. Depois de me mudar, as notícias ruins que chegavam por telefone também me deixavam triste. Penso como é que devem estar as pessoas de Bento Rodrigues, que é bem menor do que Ibitira, com apenas 650 habitantes.

Nos distritos tudo é pequeno, perto, os laços são fortes. Sabe-se o nome de todo mundo, as preferências e todos são de alguma forma parte da nossa história por mais que amizade próxima não tenha sido construída. Só isso explica minha tristeza quando chega a notícia de que alguém se foi ou está doente em Ibitira, um assalto, um acidente… E tem outra, tudo é único. Em Ibitira, com três mil habitantes, temos uma escola, poucos bares e restaurantes, praças e duas igrejas, uma delas fica mais fechada porque outra foi construída.

Em Bento era assim, só que com o legado histórico do século XVIII e XX nas construções. Porém, mais que um estilo arquitetônico, esses lugares, para quem vive neles, têm um espaço na história pessoal, não só do Brasil. E deve dar uma dor danada saber que tá tudo debaixo da lama. Eu sei também que os sobreviventes vão se unir, já vi duas ou três matérias com quem escapou dizendo que de Bento não sai.

E vi, em tragédias bem menores, a força do povo dos distritos, de reconstruir e se ajudar. Além disso, muitos ficam como raízes nas cidadezinhas, por mais que as grandes cidades pareçam com mais oportunidades, é lá que se sentem bem e encontram um gostam de viver com o que a terra dá.

A gente sabe que não é só Bento que será atingida, outras cidadezinhas e cidades maiores também vão sofrer as consequências do lucro a todo custo. A lama vai fazer distritos inteiros chorarem. Porém, quando passar o pior, eu tenho certeza que todo mundo vai se unir para reconstruir a cidade e a vida. É assim nas cidades pequenas, terra de gente grande.

 

 

Escritor por Talita Camargos Veja todos os textos deste autor →

Talita Camargos é jornalista e flerta com a literatura, procura inspiração em conversas de ônibus, flores, familiares e amigos. Idealizou o Texto do Dia e publicou nos 365 dias de 2015 neste blog como desafio pessoal.

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