Avós: amor gratuito
Meus avós são culpados por eu julgar todo senhorzinho ou senhorinha um doce. É que em cada olhar maduro por trás de óculos eu enxergo a dona Rita, Zeni, o vô Toninho, Negrinho e a vó Maria. Em cada fio grisalho eu vejo quem fez de tudo para me agradar com bolinhos de chuva, macarrão, franguinho na panela. Na voz experiente eu escuto os causos e lições de quem aprendeu muito com a vida sem nem saber das histórias ainda.
É bem difícil uma pessoa que cresceu cercada por Zeni, Rita, Maria, Toninho e Negrinho pensar que quem carrega o peso dos anos nas costas seja ruim. Os culpados são eles, principalmente minhas avós com quem tive mais contato, de tão boas me fizeram crer que avós são as melhores pessoas do mundo, se não são se transformam para os netos.
E eu sempre quis ter mais contato com meu vô negrinho que só conheci mais velha, em um enterro. Vê lá, todo mundo triste e eu contente sem largar a mão do vô que havia acabado de perder a irmã.
E como ele morava longe, tratei logo de arrumar mais dois bem perto de mim – o Toninho e a Maria. Eram tão bons que eu me sentia da família, contava os dias para vê-los novamente. Quando ia visitar outros avós na Vila Vicentina, um asilo em Divinópolis, a sensação se repetia. Teve uma época que era um dos meus programas, e oh, era uma adolescente na faixa etária que dizem ser difícil, naquela época que não quer saber de nada nem ninguém. Deles eu queria, gostava de sentir o amor, dar as mãos, andar um pouco, ouvi-los.
Tá, eu sei, existe idoso ranzinza, gente legal e chata em qualquer idade. Porém, sabe aquela coisa de se derreter por que é criança ou animal? Sou eu com os velhinhos. Amo até que desmereçam meu afeto e poucos fazem isso.É só ver um cabelo grisalho, sem nem conversar às vezes, para me derreter. É semelhante ao que os loucos por cães e crianças fazem – amam sem saber bem.
E por oferecer um amor gratuito, sem nem saber direito o que o outro tem a dar em troca, a sintonia costuma acontecer. Às vezes é o que o senhorzinho mal-humorado precisa para sorrir mais, falar do que o faz feliz. Já aconteceu de eu estar em uma prosa danada com um velhinho e me perguntarem como aguentava, só que comigo o vovô nunca tinha sido ranzinza porque houve troca de afeto como a que aprendi desde cedo com a dona Rita, Zeni, Maria, Toninho e Negrinho.