Prazer em conhecer
A cena parecia ser comum. Um rapaz que a menina nunca tinha visto chegou à república, sentou, conversou, assistiu a um filme, lanchou. Era a rotina, todo dia ela conhecia uma pessoa nova, às vezes logo ao levantar. No início, a moça estranhava as pessoas levadas pelos companheiros de casa, mas depois, sem ter para onde correr e por preguiça de se mudar, começou a aproveitar a maluquice dos colegas para ampliar o círculo de amizades. Normalmente, os hóspedes eram boas companhias.
Naquele dia não parecia ser diferente. Louca era a amiga, deixou a visita na sala e disse que iria alugar um filme. O tempo até a locadora foi grande, durou uma conversa que se emendava em outra, foi do clima a faculdade que ela fazia e ele ainda sonhava, era mais novo. Durante o papo, ela descobriu que ele vendia pipoca em frente ao Cine Belas Artes, onde sempre ia e nunca havia notado o rapaz. Mas a surpresa mesmo veio quando ela perguntou como ele tinha conhecido a amiga e ele respondeu:
— Tem um tempinho já, conversamos pela internet há meses, sei tudo da vida dela – contou.
A moça tentou engolir o espanto e sorriu, dava graças a Deus, mentalmente, por não ser uma pessoa má que se aproveitava das facilidades virtuais para fazer maldades. E ela conseguiu disfarçar, o menino logo pediu todos os contatos virtuais da moça. Ela passou e começou a amizade on-line.
A colega chegou e tomou o lugar à sala da mais nova amiga do rapaz. Engraçado é que a conversa com quem ele não tinha marcado encontro durou muito mais do que com quem ele iria conhecer pessoalmente. E depois disso, acreditem, os três não passaram de amigos virtuais, embora a menina que fez companhia tenha gostado muito do moço. Ela continuava a gostar, só que o papo no mensenger, skype, whatsapp sempre dava a sensação de que os dois estavam juntos em qualquer e nenhum lugar. Contavam histórias um para o outro, mas tirando o encontro improvável nunca viveram uma história juntos no mesmo local. A cena continua e é cada vez mais comum.