Amar um sistemático é…
Amar um sistemático é aprender a fazer leitura de olhares. Bravios, apreensivos… É compreender que há quem se incomode com o que parece normal. É ficar mais atento a como está o forro da mesa. É ter que quebrar o gelo em todas as ocasiões fora de casa. E às vezes dentro também, a dois, o que transforma o amante do sistemático em um especialista para começar conversas, entrar em festas, tocar na delicadeza dos assuntos mais sombrios.
Amar um sistemático, quando se é um deboísta, é persistir em ser leve mesmo que o outro endureça ou por isso mesmo. É usar a leveza como escudo e ver o sistemático afrouxar mesmo que brevemente. É dizer “Eu te amo” e ouvir que o boleto vencerá amanhã.
É também ter as contas pagas 15 dias antes de vencerem, conseguir economizar mesmo que tenha ganhado menos no mês. É nunca ter o sono interrompido com o som alto da TV. É ter os remédios em cima da mesa ao acordar, a carne na parte debaixo da geladeira para facilitar o preparo para o almoço. É assim o “Eu te amo” do sistemático, na prática.
É descobrir que para ele não pedir a um desconhecido algo é mais que timidez. É ter os tímpanos estourados com o silêncio sem saber direito o porquê. Ter que voltar tudo que disse para examinar bem o que o aborreceu, ter que explicar, talvez se desculpar sem sentir culpa.
É não ter gambiarra na casa nem documento atrasado. É ter as contas planilhadas e descobrir que R$0,50 foram da bala. É ter alguém que se preocupa com os detalhes que até então nem percebidos eram. É compreender que o outro não é duro e sim sente em cada mínimo pedaço o que o deboísta deixava passar.
Amar um sistemático é nunca mais ir a uma festa só porque sobrou um convite de alguém. É ter que estar nos lugares porque os quiseram de verdade. É ficar um pouco menos relaxado e deixar o sistemático mais leve. É aprender sempre e ter a certeza de que se estão juntos é porque o sistemático realmente quer, pois não quebra as regras e para estarem casados é preciso amor.