Abraço de Homem
Por Simião Castro
Se você é homem, certamente sabe do que eu tô falando. Se é mulher, não sei. Não sei se isso existe entre as mulheres. Fato é que se você abraça um homem, na maior parte das vezes, você sabe que está abraçando um homem.
E nem é por conta da aparência não! Não é a barba, ou o timbre da voz nem qualquer outra coisa que denuncie. Só é diferente – e não é um diferente bom, óbvio. Eu tenho certeza de que você já abraçou uma criança. E, veja bem, aqui eu falo mesmo de criança, sem nenhuma distinção de gênero, porque isso é muito importante.
Quando você abraça uma criança é como se houvesse uma explosão de conforto, luz e calor no universo. Fala se não é!? O abraço de uma criança é aquela coisa completa, perfeita, sublime. E aquelas que te veem e vêm correndo para abraçar, então!?! Aquilo sim deve ser a representação do céu na Terra. É o paraíso humano, separado apenas pelo espaço entre um sorriso e o enlaçar dos membros.
E isso é assim por uma razão muito simples. Às crianças menores é permitido existir por completo, se expressar por completo. Os filtros são mais brandos, os olhares de repreensão são mais raros.
À medida que elas crescem, porém, começam a operar outras regras, outros padrões, outras imposições. As meninas, ao menos nesse aspecto, podem continuar um pouco mais autênticas, mas os meninos – ah, os meninos!
É a partir daí que nasce o abraço de homem. É um negócio meio estranho, meio desconfortável. Existe, mas é aquele abraço cheio de cotovelos e costelas e ombros.
O abraço de homem tem muito osso e pouco coração. Exatamente porque deixa de ser abraço, pura e simplesmente, e passa a ser o abraço de homem.
Dia desses eu abracei algumas crianças e dois pré-adolescentes. As crianças vêm com tudo no colo – mesmo quando meio tristonhas ou te perdoando por tê-las feito chorar.
Já os pré-adolescentes, depende. Depende se você é menino ou menina, homem ou mulher – ou o que querem te fazer pensar que isso significa. Vale constar que meu grau de intimidade com ambos era idêntico.
A menina se entregou ao abraço. Permitiu a aproximação o afago verdadeiro e espontâneo. Não se afastou, não limitou implicitamente a aproximação.
O menino veio meio de lado – eu sei que você sabe como é! –, cheio de ombros, com aquela distância – física e psicológica. O chato é que o abraço de homem é uma babaquice sem tamanho.
Aliás, um abraço de homem serve mais pra afastar que pro contrário. Pro que, afinal, é a função do abraço.
E desconstruir isso é muito mais difícil do que construir. A construção é feita gradativamente, à medida que a gente cresce, mas a desconstrução precisa de pelo menos duas coisas – às vezes simultâneas – pra ocorrer.
Ou você, um dia, tomado por alguma realização provocada por uma situação ou por um episódio da vida, resolve que não vai mais dar abraços de homem – e aí muda! Ou você acaba se tornando tão íntimo e tão próximo de outro homem que esse muro de insegurança, medo e vergonha de se abrir é derrubado.
Já presenciei e vivi ambas as coisas. E esses homens, independente de alcançarem isso pela cumplicidade comigo ou pela libertação das amarras sociais, é que deram conta de se entregar. Abriram mão dos abraços de homem porque já não precisavam mais deles pra provar quem são.
Texto Perfeito!!! parabéns pelo primeiro texto Simião. A noite de sexta até a publicação do seu texto foi de pura ansiedade.
Com certeza lerei os próximos.
Hermes
Que bom que você veio ver, Hermes! Nossa, fiquei muito feliz mesmo de você ter lido. Será uma alegria enorme ter você acompanhando os textos. Muuuuito obrigado, também fiquei felizão por ter gostado! Abração. Sempre mais alto!