A vingança do nome trocado

Dizem que o próprio nome é o som mais bonito que alguém pode ouvir. Eu não sou tão narcisista assim para concordar. Quando acontece de alguém errar meu nome nem fico tão brava. Só que por saber o quanto o nome é importante, tomo muito cuidado ao escrever legendas, para trabalhos, o que não significa 100% de acerto. Vez ou outra, confundo pela letra da assinatura ou mesmo por ser humana.

Meu último erro quase rendeu choro e briga. A vítima do meu deslize veio falar comigo em tom de brincadeira séria: “Gostei da cobertura, mas, sacanagem, meu nome saiu errado”. Eu já havia sido avisada e consertado. Porém, todas as vezes que ele me vê comenta o assunto, eu rio, brinco. Hoje o tom da conversa ficou mais sério um pouco. O homem me falou que a troca de duas letrinhas inocentes o transformou em xará do pior inimigo. Fiquei sem reação. Quando ele leu o nome errado deve ter lembrado de todos os dissabores com a pessoa pouco querida, imagino. Talvez eu tenha despertado um sentimento que estava ali quietinho. Que poder as palavras têm! Como o erro pesa!

Dei uma respirada e me veio uma luz. Lembrei que uma pessoa non grata também resolveu usar um nome que os queridos e próximos não usam para se referir a mim. Contei para o rapaz que todo mundo que é puxa-saco, quer forçar amizade, falsa simpática, me chama de Tatá. Há exceções – uma em um milhão. No entanto, apesar de ser o apelido natural para Talita poucos me chamam de Tatá, lembro apenas do meu tio Cacá, de um colega de faculdade e da minha prima Carol, mais dois ou três devem completar a lista. Chamam-me de Tata (feminino de Tato), Talitinha e até Talitão – Tatá é raríssimo, normalmente nessas de querer ser algo que não são mesmo. E o pior é quando a pessoa percebe, pergunta se não tem problema me chamar de Tatá, eu digo que prefiro Talita porque quase ninguém me chama assim, e ela continua. Salvas exceções só gente que depois eu fico com antipatia persiste no erro.

Ao relatar a raiva que tenho de Tatá, achei que eu havia quebrado o gelo e fiquei até com medo de saber o que o dono do nome errado tinha feito ao meu colega. Nunca vou nem perguntar porque é um contato profissional, sem nenhuma intimidade. Trocamos alguns sorrisos, gentilezas e quando ele foi se despedir de mim sabe o que disse?

— ATÉ MAIS, TATÁ!

Creio que daqui em diante, ele pouco se lembrará do meu nome, só do apelido. Eu deixo ele se vingar mentalmente de mim e do outro moço, inimigo dele, tem nem jeito. E tudo por causa de um nome trocado, duas letrinhas que não estavam legíveis 🙁