A paz no cume da montanha não resolve nada
Buscar a paz no alto da montanha só adianta se ela fizer a viagem de volta comigo porque eu preciso da paz o tempo todo. Ela tem que ser minha companheira quando estou sozinha – em casa, no alto da montanha, no trem que vai pra cidade grande – para eu não me sentir solitária; quando de frente com opiniões contrárias ou assuntos que sorrateiramente roubam meu equilíbrio; no meio de uma multidão tão desconhecida, ameaçadora e ao mesmo tempo parecida comigo.
Se eu deixá-la no alto da montanha, quando for buscá-la em um fim de semana ou até em um ano sabático, a vida sai dos trilhos; o desequilíbrio vem junto com a solidão; em meio a tantos ou quando falarem o que não quero ou não posso ouvir. Acredito que, nesse caso, em que a paz fica no alto da montanha, o trajeto é para uma visita à paz e não uma busca.
Em visitas o contato é temporário, desaparece. Quando entendo o que é buscar o sentimento continua comigo.
E ser uma pessoa de paz só faz sentido se for diante do que é ameaçador. Dentro da igreja é fácil, durante uma oração pode ser fácil, quero ver eu me manter serena se tocarem nas minhas feridas. Eu já viajei em busca de tranquilidade e encontrei muitas situações contrárias no meio do caminho; estive mais calma em uma tarde caótica de trabalho do que em uma semana de férias. Porque eu tenho que encontrar a paz o tempo todo e especialmente quando a vida cobra alto preço. A paz no alto da montanha, na calmaria da casa de campo, longe de mim, é só uma lembrança, às vezes emoldurada em retratos.
A paz dentro de mim não faz a tristeza desaparecer, mas me ajuda a ver o que o causou a tristeza pode ensinar. A paz não resolve magicamente problemas, porém ajuda a evitar outros, principalmente o desgaste entre quem pensa diferente, impede que eu dê respostas formuladas no fogo alto das emoções. A paz por si só não resolve quase nenhum embrólio, entretanto me coloca em condições de pensar melhor para encontrar minhas soluções.