A morte é uma egoísta

A morte é uma egoísta

A morte é uma egoísta, indiferente, poucas vezes vem como alívio para quem sofre. Nem se importa se hoje é 24 de dezembro, se todos estavam em clima de festa. Tá nem aí se a cidade é pequenininha e todo mundo vai chorar, ter um Natal sem graça. Desconsidera idade,  planos, o presente, o futuro e até as lutas do passado.

Eu fingia que a morte era uma conhecida distante, que nunca rondaria a minha própria casa. Depois que ela entrou uma vez sorrateiramente até penso nela com frequência, mais que gostaria, e vivo maldizendo-a. Mesmo quando vem para levar os mais doentes, a vejo de uma forma muito triste. Ontem, enterrei uma tia-avó de 86 anos, que estava bem mal, o semblante dela é de quem havia descansado, entretanto, não dá pra olhar pra morte sem ser torto, independente da circunstância. Porém, algumas doem mais, muito mais.

Hoje eu planejei um texto bem bonito, mas a alegria foi levada junto com a notícia que recebi dessas mortes agudas. E como contei aqui uma vez, não consigo escrever algo já planejado e bem delineado na cabeça quando o espírito tá mal, ainda mais quando uma cidade inteira chora, a minha cidade por um garoto de 12 anos com o meu sobrenome, primo de segundo ou terceiro grau.

15h e a notícia se espalhou, levou a história de Natal que eu iria contar e minha alegria. As pessoas estavam todas na rua com as mãos na cintura, no coração e a boca em formato de O. Olhos cheios, palavras que não saíam. Eu queria que fosse mentira, mais um daqueles boatos ou notícia aumentada pelo povo de Ibitira. É muita crueldade uma criança perder a vida enquanto a mãe trabalha vendendo presentes, tias, primos e irmãos se preparam para a ceia. Não é possível isso acontecer logo hoje, eu pensava e lutava para acreditar que essa era uma lei divina. Porém, não é.

O tempo resolve quase tudo

Quando uma criança se vai a melhor fase da vida é interrompida. Esperanças se apagam. Será que ele seguiria a profissão do pai? Será que escolheria algo totalmente diferente? E pra quem era mais próximo, ficam as perguntas: Por que tão cedo?  Por que hoje? Como conseguiremos seguir? A verdade é que não há resposta que console, só Deus. O tempo dá uma atenuada, mas resolver tudo, tudinho, não. Fica o aprendizado, uma dor mais branda, nunca totalmente inexistente, daquelas que a gente aprende a conviver com muito custo.

Hoje, com certeza colocarei o Juninho, a Aline, a Thayssa, o Sydinho, Djalminha e todos que ficaram nas minhas preces. Amanhã, vou tirar um tempo para abraçá-los. Eu sei que nada consola, mas um abraço dá um pouquinho de afago no meio do furacão. Todos os dias vou rezar por todos.

 

Escritor por Talita Camargos Veja todos os textos deste autor →

Talita Camargos é jornalista e flerta com a literatura, procura inspiração em conversas de ônibus, flores, familiares e amigos. Idealizou o Texto do Dia e publicou nos 365 dias de 2015 neste blog como desafio pessoal.

Oi, o que achou do texto de hoje?

Você tem 2 comentários
  1. Neusa Silva at 17:23

    O QUE ERA PRA SER FESTA SE TORNA TRISTEZA E DOR.
    Estava em bom despacho na casa de minha mãe. Irmãos reunidos, uma festança. Foi quando recebemos a notícia. Fim da Festa. Uma dor imensa que invadia a alma…
    Sabe Talita, muitas das vezes não conseguimos expressar o quanto amamos alguém, mas é nos momentos mais difíceis que esse amor se manifesta. Naquele momento me coloquei no lugar de Aline e tomei a dor dela pra mim… Sem palavras!
    O que fazer? Ir até lá? Oh, meu Deus! Porquê? Tinha que ser justo hoje?
    Quantas perguntas e uma só resposta: “Somente o meu Espírito poderá consola-lá.
    Nesse momento amigos e parentes a rodeiam, mas eu o autor da vida a tomo nos braços. Sou eu quem dou, Sou eu quem tiro. Tudo É meu e tudo a mim pertence. Vocês conhecem o passado e o presente, mas eu conheço o futuro e sei o que é melhor”. Diante dessa resposta fazer o que? Orar por ela, pela família e pelos amigos. Foi essa a reação que eu e minha família tivemos naquele momento de tamanha dor.
    Mas, o que me conforta é saber que Aline crê em um Deus que enviou seu unico filho, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. É saber que ela ensinava o caminho a Juninho e o levava a crer e a servir Jesus.
    O próprio Jesus disse: “Todo aquele que crê em mim ainda que morra viverá”.
    Acabaram os dias de luta e chegar amaos dias de Glória.
    A família e amigos, minhas oracões e meus sinceros sentimentos.

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