As hilárias mortes de Quincas Berro d’água
Se Quincas Berro d’água fosse um personagem contemporâneo, ele seria descrito como alguém que cansou do sistema e decidiu chutar o balde. Criado por Jorge Amado, Joaquim da Cunha teve uma vida exemplar até os 50 anos, quando decidiu dizer adeus ao trabalho de funcionário público e à família para aproveitar a boemia de Salvador. O adeus aos familiares foi marcado por uma briga e palavras ofensivas, causas da morte da mulher de Joaquim junto à vida regada à cachaça que passou a levar. Parece triste, mas Jorge Amado escreveu o livro que mais me fez rir na vida, embora a trama também desse margem para um drama muito bom.
Nas noites de bebedeiras, Quincas chega a falar como queria morrer, o fim ideal seria no mar. E uns dizem que foi lá que ele morreu. A família jura que Joaquim teve uma morte decente, nos poucos metros quadrados que decidiu morar sem os filhos e mulher, mas a versão é contrariada por outras bem mais divertidas. Há pelo menos duas mortes para Joaquim, a que os familiares contam, a que os amigos dizem e uma outra que corre na cidade.
A dos boemios é sensacional e leva a crer que Quincas fez de tudo para morrer no mar. Depois do velório preparado pela filha, os amigos o colocam em um barco para a despedida final. É lá que a melhor parte da história acontece, a qual não irei contar aqui. Só adianto que durante o velório familiar, todos estranham o sorriso do morto, o qual ninguém conseguiu disfarçar.
Eu adorei andar pelas ruas soteropolitanas com Quincas, me diverti muito com ele e os amigos, fiquei com pena da família, mas ele é um sujeito tão engraçado que me ative à boa ficção escrita por Jorge Amado. Para quem quer uma leitura sobretudo divertida, fica a indicação, poucas leituras me fizeram rir, e Quincas colocou um sorriso no meu rosto do início ao fim.