A correspondência
Hoje desci os três lances de escadas do prédio às pressas. O carteiro interfonou e a entrega só seria feita com assinatura. O interfone soou como um sinal de alerta:
Será que deixei de pagar alguma conta? É uma cobrança? Pedi algo no Aliexpress e não me lembro? Ou um inocente presente?
A curiosidade me assaltava e em menos de dois minutos as hipóteses embaralharam os pensamentos. Como estava com um roupa pouco apropriada para descer, meu marido foi lá. Eu me troquei tão rápido que cheguei antes do carteiro sair, enxerguei a silhueta dele. Vi um envelope, pensei logo qual conta esquecida era aquela. Perguntei-me se era uma bobagem ou algo caro, uma fraude também estava nas possibilidades. Preparei o choro e as explicações para o marido.
E quando o envelope foi colocado nas minhas mãos, o espanto: alguém enviou uma carta para mim. Sim, carta, destas escritas a mão. E mais, junto havia uma foto, igual na minha infância, quando as amigas deixavam Ibitira e enviavam notícia pelo Correios.
Desfiz o semblante de preocupação, abri o sorriso e li as palavras durante todo dia. Foi um jeito raro que a pessoa encontrou de dizer obrigado, a próprio punho e ainda quis ter certeza de que eu a receberia, pois enviou correspondência registrada. Quando li quem era o remetente entendi tudo, era de alguém de atitudes nobres mesmo, pouco habituais hoje.
Em tempos que o carteiro só entrega contas, cobranças e encomendas, há de se estranhar quando uma improvável carta é entregue. Creio que o carteiro se sente mais carteiro nestes raros momentos, atualmente eles mais parecem “conteiros”. E eu sinto que lido com gente de carne e osso quando recebo uma carta com a letra das pessoas, afinal, até as mais bonitas mensagens hoje chegam escritas por máquinas, computadores e celulares.
Boa tarde,
Como vai?
Adorei o texto *—*
Cartas, eu gostava de escreve-las mas nunca mais as recebo 🙁
Atitude nobre em tempos de tecnologia.
Beijos
Me fez lembrar da época que trocava “cartas sociais” com meus amigos, que eram postadas sem custo. Enviava até para os vizinhos, só para ter o gostinho de escrever, e de receber também. Dentro dos envelopes iam muitas mensagens, casos, declarações… Tudo era postado, como hoje fazemos nas redes sócias. Muito legal!