À beira de um ataque de letras

À beira de um ataque de letras

A tristeza, a raiva, o desamor andam de mãos dadas com a inspiração. Com a alegria ela tem um relacionamento bem mais difícil, vem mais depressa é com os nós na garganta – que trazem palavras, como se fossem pontas que devo puxar para desatá-los. Por isso, quando estou prestes a explodir, tenho um ataque de letras em vez de nervos. Abro meu bloco de notas do celular ou o de papel, word, google drive, o que estiver ao meu alcance mais facilmente.

Se não escrevo, as palavras insistem em me atormentar. Por isso, destilo palavras, armas incapazes de ferir qualquer pessoa do modo que faço, é como se eu socasse a parede, desse tiros em uma placa, na garrafa, no que me mata – apenas para me salvar. Com o lápis, rasgo o verbo, faço gato e sapato de quem me provoca. É mais fácil lutar assim do que ir para um campo de batalha – o papel e a tela em branco tudo aceitam. Às vezes saio exausta dessa luta que é comigo, e só. 

Não é drama, nem exagero. Já tentei conter, pois rancor não tem espaço no meu coração, mudo de ideia fácil e a raiva só precisa de um diurético para ir embora – ou de uma crônica. E já me fiz muitas perguntas: vale a pena registrar um sentimento ruim que sei ser passageiro?  E se alguém interpretar mal e relações ficarem abaladas por isso? Em 2015, com meu projeto de escrever um texto por dia foi inevitável publicar muitos textos escritos quando eu estava atacada. Mas aí veio a surpresa: desatei nós de outras pessoas com meus desabafos.

Muitos textos escritos no ano passado, se eu não tivesse prometido publicar, teriam ficado no meu arquivo, seriam amassados ou deletados… Porém, mostrá-los tornou meu ataque de letras ainda mais libertador. Um monte de gente, que acredito, não escreve, me deu apoio ou disse que se sentia como eu.

Acho que é por isso que quando reluto para escrever algo mais indignado, do lado paia da vida, o texto fica na cabeça até ir pro papel. Resolve mais do que Valeriana, briga ou choro. Normalmente, esqueço logo depois de escrever e rio quando volto a ler, tempos depois. Daí, tenho é um ataque de risos.

Observação:

O termo ataque de letras não é uma criação minha, li em um texto da escritora Fernanda Mello, no livro Amar é Punk, obra, aliás, escrita, quase que totalmente nestes momentos nervosos. O texto o que me refiro também foi publicado no blog da autora – aqui.

Escritor por Talita Camargos Veja todos os textos deste autor →

Talita Camargos é jornalista e flerta com a literatura, procura inspiração em conversas de ônibus, flores, familiares e amigos. Idealizou o Texto do Dia e publicou nos 365 dias de 2015 neste blog como desafio pessoal.

Oi, o que achou do texto de hoje?

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