O burro que vale ouro, Diamante
Naquele tempo, dezembro era um mês molhado. E também era época de preparar a mesa para o Natal e de quem trabalhava no campo levar todas as delícias para os armazéns de secos e molhados da cidade mais próxima, fizesse chuva ou sol. Seu José Alexandre tinha a missão de levar 500 frangos para Ouro Preto debaixo de uma tempestade que teimava em cair mesmo com a caminhonete cheia e os fregueses esperando no dia 15 de dezembro. O problema nem era a chuva, mas a ladeira que transformou-se em um atoleiro para chegar à estrada.
Foi uma peleja danada. Seu Alexandre tentou, tentou e nada da caminhonetinha subir a ladeira tomada pelo barro e aguaceiro. Quase desistiu da empreitada, ainda mais que o carro sambava no morro, dava medo! Porém, a missão de levar os frangos para a cidade, o respeito ao compromisso firmado, o fazia sempre tentar mais uma, duas, três, quatro vezes, sempre em vão… Daí, Sandoval, braço direito dele no sítio teve uma ideia.
— O Seu José Alexandre, vou aprontar a carroça e eu mais o Diamante vamos levar a caminhonete com os franguinhos até a rodovia.
— Será que vai dar certo, Sandoval? Será que o burro Diamante tem força?
— Ah, isso ele tem, garanto que a gente consegue tirar a caminhonete daqui.
E lá foi Sandoval colocar o Diamante no jeito para fazer a caminhonete subir a ladeira naquele atoleiro. Diamante era tão dado ao trabalho que nem relinchou por estar debaixo de chuva e puxar uma carroça mais um carro com motorista. Sandoval também não, sabia que Seu José Alexandre queria ver todo mundo satisfeito com franguinho na panela no domingo ou na ceia do Natal de 1970, ficou feliz em saber que podia ajudar. Daí, só restou ao Seu Alexandre confiar no fiel escudeiro e no burrinho. Entrou na caminhonete, fez o “em nome do pai” e aguardou. Sandoval deu ordem: “Vamos, Diamente”. E o Diamante foi, era força que os cavalos de potência da caminhonete precisavam para fazer a caminhonete funcionar.
Seu Alexandre nem acreditou quando o carro chegou na estrada. Sandoval dizia para o patrão continuar a viagem com a proteção divina. Diamante relinchou como quem sabia ter cumprido uma tarefa difícil.
“Oh, Diamante, você fale ouro, e você também, Sandoval! Agora é descansar. Vou lá nas vendas entregar os frangos”.
A chuva só parou de cair no dia seguinte e graças a Sandoval e Diamante a mesa dos ouropretanos teve frango naquele Natal de 1970. Seu José Alexandre tem o Sandoval do lado até hoje, já o burrinho ele achou injusto servir só a ele e passou para um fazendeiro, mas vai visitá-lo até hoje. Comprou uma mulinha e sabe qual o nome? Diamantina, em homenagem ao burro que valeu mais que o carro naquele dia