O dilema de Amélia e Clara
Amélia fazia de tudo para ensinar aos filhos como serem organizados. Não, ela era bem diferente da xará cantada pelos Demônios da Garoa, saía com o dia ainda noite para o trabalho e quando chegava em casa ainda preparava quindins para vender na firma. E justamente por ser antônima da outra Amélia, ela ensinava que deixar as coisas do jeito que achou era essencial. Afinal, a vida estava muito cara para ter uma diarista e ela só tinha o final de semana para colocar ordem em tudo.
Só que Clara, a mais velha, era tão bem intencionada quanto esquecida. Pensava: “vou ajudar a mamãe, tadinha, trabalha tanto”. A primogênita até fazia o que podia, limpava o chão, tirava o pó, mas esquecia a roupa no banheiro, o sapato na sala. Amélia ficava brava: “Ai minha filha, a casa nem realça se estiver limpa com tudo espalhado”, dizia. Clarinha ficava triste, uma época chegou a colocar post-its para recolher roupas e calçados antes da mãe chegar. Porém, a cabecinha adolescente avoada pouco ajudava e Amélia sempre chegava dando bronca.
Certo dia, a menina havia acabado de tomar banho quando a mãe chegou. Amélia até se assustou ao ver tudo no lugar, deu falta apenas da toalha no varal. Procurou na cama da menina, sofá, nas maçanetas e nada: onde será que Clara tinha deixado a toalha? Lá foi a mãe, cansada de tanto chamar atenção. Antes de chegar na varanda, Clara já ouvia a mãe perguntar: “cadê a toalha que não está no varal?”
Clara não fazia ideia. Quando a mãe chegou, a mocinha desorganizada começou a falar que se não estava no varal nem imaginava onde, mas que a desculpasse por saber que ela não queria ser do jeito que era e se esforçava para mudar. Amélia parou de falar e só ria, tinha uma verdadeira crise de risos e abraçou a menina.
“O que foi, mãe? Você me desculpa, me entende?”
“Claro, minha filha. Você é mesmo cabeça de vento, a toalha está enrolada em seus cabelos”
Desse dia em diante a mãe teve certeza de que a menina não fazia por mal e Clara ficou tão assustada com o esquecimento que passou a ficar mais atenta, nem sempre conseguia, mas tentava, sempre, e a mãe chamava atenção, amavelmente.