Pessoas implosivas
Muito se fala sobre as pessoas explosivas, essas que exigem cuidado, pois aumentam o tom de voz, dão tapa na mesa, não deixam barato. São pessoas que fazem mal para quem está a volta, atingem a qualquer um que estiver nas proximidades. Mas o tipo mais perigoso é o ser implosivo. Ao contrário de quem explode e joga tudo que há de ruim para fora, o implosivo concentra os destroços dentro dele mesmo. Pode ser que ele tenha ficado tão mal com algum acontecimento quanto o explosivo, porém a reação é inversa e corre o risco de ser cumulativa, o que causa mais mal a ele do que a quem está por perto, normalmente.
O pior é que quando a implosão é emocional nem todos removem os destroços, a bagunça é menos aparente, no entanto, concentrada. É aí que o perigo mora. Alguns implosivos falam pouco e sentem muito, preferem dar conta de si sozinhos. A explosão não tem como passar despercebida e pode funcionar como pedido de ajuda. Com o tempo, as explosões ficam famosas e aqueles que convivem com o explosivo aprendem a lidar com ele, o pavio curto passa a causar menos estrago. O implosivo quando acumula os restos de insatisfações uma hora desaba e recolhe-se na solidão, para evitar problemas com os outros se fecha, evita o convívio.
Eu já fui muito implosiva e de uns tempos para cá aprendi a recolher meus cacos, acomodá-los onde incomodam menos, jogar fora o que não quero nem aproximar de vestígios. De vez em quando ainda me vejo atormentada por causa de algumas implosões e por isso aprendi a evitar que as pessoas e coisas chegassem em um ponto no qual a implosão ou a explosão fossem a única alternativa. Estranho é que algumas vezes explodi de propósito para acabar com algumas coisas que queria ver bem longe de mim mesmo, pode ser uma solução também, radical, mas longe de ser a ideal.
Assim, tenho tentado retirar o que me faz mal de tempos em tempos, sem fornecer material para uma combustão. Respiro, escrevo, rezo, conto até mil se for preciso. E como sou humana às vezes explodo, muitas vezes implodo e tento aprender com os meus destroços o que sou e o que quero deixar de ser