Quebranto: histórias do interior do Brasil e humano
Ler “Quebranto” é ter a sensação de estar em um banco de praça do interior, escutando o Zé contar as histórias do lugar. Não fosse o comentário do autor no e-mail ao enviar-me o livro, eu poderia jurar que foi exatamente depois de ouvir histórias de lugarejos que Marcos Almeida escreveu todos os contos da obra. Segundo ele, a inspiração veio do escritor Oswaldo França Jr., do cotidiano e dramas humanos, familiares. Mesmo assim ainda suspeito que alguns causos tenham contribuído com o processo de criação. Mas esses detalhes tornam-se pequenos diante da riqueza da escrita e dos escritos.
Por falar em detalhes, eles me chamaram atenção na narrativa-descritiva de Marcos. É possível visualizar cada cena por causa da forma minuciosa que conta tudo. Fechar os olhos é ficar imerso em “Quebranto”, nos seus canaviais, campos de várzea, ruas onde meninos travessos brincam.
A maioria dos contos são ambientados no interior, menos “Banho quente”, do qual gostei bastante. É o mais urbano e nem por isso menos interessante, história de um casal que juntou as escovas de dente, se aceita, embora tenha dificuldades de se entender, bem lá no fundo.
Como caipira que sou, menina da roça, me vi e reconheci muitos personagens que poderiam ser de Ibitira. Sofri com alguns fatos que assolam a gente do interior e com os dramas de cada um. A viúva que tem uma “compreensão” depois de levar um susto, o jogador de futebol que era craque e errou os passes por não encontrar a chuteira, o menino dos dentes tortos e mais pobre que todos os outros.
São muitos personagens e histórias, cada um e cada uma revelam o interior do Brasil e o interior de cada um. É um prato cheio para quem gosta da vida simples e de contos muito bem escritos.
Para saber um pouco mais da obra
Sinopse: A angústia de um escravo diante da iminência de uma caçada humana. Uma Maria inquieta que reencontra ao acaso o ex-namorado depois de anos. Um balconista de padaria se preparando para os embates de uma melancólica ceia de Natal. Um jovem recenseador, vagando sozinho por espaços vazios e por vezes até fantasmagóricas de tão ermos, na expectativa de reencontrar um antigo e misterioso colega de escola desparecido. Cada um dos personagens deste livro, em certa medida esperançosos e em busca de algum tipo de redenção, nos oferece um generoso encontro com nossas próprias inquietações.
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