O verdadeiro motivo para o sumiço das notas de um real

O verdadeiro motivo para o sumiço das notas de um real

Há muitos objetos ameaçados de extinção, porém existe um que me entristece e assusta: o sumiço das notas de um real. Lembro da época que colecionar beija-flores era sinal de que em breve eu poderia desengaiolá-los para fazer boas aquisições. Hoje quem tem um beija-flor não solta – nota de um real na carteira atrai prosperidade, dizem, por isso estão fadadas a viverem para sempre engaioladas encarteiradas.

A nota de 2 é o novo R$ 1, a (sobre)vida está mais cara.

Assim, pra que produzir um real se nada mais tem este valor? Fui comprar um Tridente e logo saquei a nota de 2 do bolso. Pensei: poderiam ser comprados 2 antigamente. Distrai-me tanto com a inflação, fiquei tão assustada que consegui mascar só um chiclete, perdi o pacotinho enquanto a cabeça viajava rumo ao futuro do preço do Tridente e outros itens bem mais necessários.

Como esse chiclete é um vício para mim, entrei no primeiro bar e comprei outro, por 2 contos. Mascá-lo ficou ainda mais difícil, poderia ter comprado R$ 4 com a soma do total gasto em menos de 20 minutos. Minha preocupação aumentou ainda mais porque quando me formei fui presenteada por meu irmão com uma nota de R$ 1. Pensei: pronto, tenho meu amuleto, ainda mais que agora sou uma jornalista diplomada, vou precisar, o mar não está para peixe na área.

Nota de um real é amuleto, mas perdi o que meu irmão me deu :(

Nota de um real é amuleto, mas perdi a que meu irmão me deu 🙁

Só que certo dia eu tinha duas alternativas: inteirava a minha passagem com o R$ 1 ou voltava para casa a pé. Não fosse tão longe somado ao meu cansaço, eu teria topado a caminhada só para fazer mais uma simpatia para atrair notas bem maiores para o meu bolso. O problema, ou solução, é que nunca fui muito apegada a dinheiro. Entretanto, na hora, com dor no coração, entrei no ônibus lotado e entreguei o R$ 1 e várias moedinhas para o trocador. Até hoje quando lembro vejo os olhos dele brilhando e me lembro que tirou do bolso uma pratinha, logo em seguida colocou na carteira a nota, rara, do beija-flor.

Desde então só vejo R$ 1 em prata. E olha que tem apenas uma década que começaram a tirar os beija-flores de circulação, segundo a Casa da Moeda. A nota teve que ser alterada três vezes, por causa do alto número de falsificações, mas acho que no fundo, no fundo, a extinção quis nos mostrar que em breve, muito em breve, não será possível comprar quase nada pela bagatela.

Detalhe importante: a moeda de R$ 0,01 também não é mais fabricada, os comerciantes têm mais do que motivos para, quase sempre, ficarem com os ilusórios uns centavos de troco das vendas de R$ 1,99, por exemplo.

 

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Talita Camargos é jornalista e flerta com a literatura, procura inspiração em conversas de ônibus, flores, familiares e amigos. Idealizou o Texto do Dia e publicou nos 365 dias de 2015 neste blog como desafio pessoal.

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