A paixão do melhor amigo

A paixão do melhor amigo

Tudo que João queria era um beijo da melhor amiga. Ana resistia às flores, serenatas, cartas apaixonadas… Ela queria continuar a ser a confidente do primo e que ele fosse o seu ombro amigo para sempre. Ela jamais imaginava poder viver um amor diferente da amizade com ele. O problema maior é que João começou a insistir, Ana não podia sequer falar sobre as paixonites que ele fechava a cara, torcia o nariz e ia embora. Com o tempo, tentou se conter, era pior ficar sem falar com Ana do que escutar os planos com outros rapazes.

Com os delírios da moça ele até se acostumou, mas como viviam em uma cidade pequena ninguém o confundia com namorado de Ana, todo mundo sabia da amizade. Além do mais eram primos, como iriam ser um casal? Era assim que todo mundo pensava. Por isso, os homens até pediam ajuda para se aproximar dela. No início ele se continha, depois foi tirado de festas por policiais, o ciúme subia à cabeça e ficava difícil não dar uns bons sopapos naqueles pretendentes de uma figa.

Ana começou a ficar desgostosa com aquilo. Era triste ter que se vigiar, ter segredos e ver o melhor amigo ser expulso de festas por causa dela. Começou a sair em outras cidades com amigas para evitar vê-lo em confusão. Em umas das férias passou o mês todo longe de João. Foi a época que ela conheceu a saudade mais de perto, chorava sem o amigo apaixonado, mas pensava que era melhor para eles.

E João ficou tão triste que decidiu não ligar nem enviar cartas para onde ela estava. Decidiu até que arrumaria uma namorada para esquecer Ana. A namorada ele até conseguiu, mas esquecer Ana era impossível. Porém, sem a moça, era isso que lhe restava.

Quando Ana voltou de viagem sem de nada saber, foi avisada de um baile onde todos, inclusive João, estaria. Ela ficou toda feliz, vestiu a saia mais bonita, colocou uma flor no cabelo e tratou de ir ao baile. Quando lá chegou João estava em uma mesa sozinho.

Tocava Michelle e apenas ele estava sem par. Ela cumprimentou-o e os dois rodopiavam de rosto colado pelo salão, Beth, a namorada, estava no toilet. Sem se preocupar, sentou-se na mesa, a parceira de João era a prima e ele havia comentado da saudade que estava dela, nunca que ela imaginaria que Ana era a mais ameaçadora das rivais. Mas, no fim da música, João roubou um beijo e ela gostou. Por um segundo ele se esqueceu que tinha namorada, das barreiras da amizade…

Espantada, Beth lembrou João que estava ali. Antes que ele chegasse com Ana na mesa, deu um soco que chamou a atenção de todos.

— Eu não acredito, a priminha ladra de namorados, mal chegou, esperou só eu sair um pouco – sem esperar justificativas, saiu da festa. 

Ana, aflita, perguntou:

— Por que você não me contou? 

— E perder a oportunidade de conquistar? Nunca!

Os dois dançaram a noite toda. Os segredos deixaram de existir como nos bons tempos, pois quem se ama precisa dizer a verdade. E João nunca mais precisou bater em ninguém por causa de Ana, ela era inteiramente dele. O que mais os espantava era a certeza de que continuavam a ser o melhor amigo um do outro, mesmo tendo se transformado em namorados.

 

Escritor por Talita Camargos Veja todos os textos deste autor →

Talita Camargos é jornalista e flerta com a literatura, procura inspiração em conversas de ônibus, flores, familiares e amigos. Idealizou o Texto do Dia e publicou nos 365 dias de 2015 neste blog como desafio pessoal.

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