Passado, presente e futuro no luto
Viver no presente é quase impossível para quem acabou de perder uma pessoa amada. É preciso esforço para não se afundar junto às lágrimas com as recordações do passado e não se perder em pensamentos do tipo: “e se ela estivesse aqui quando eu me casasse”… Eu fazia este percusso como se pisasse em espinhos com pés descalços, sem ter para onde me refugiar quando minha mãe se foi.
Só que a salvação está no presente, o “lugar” mais difícil de estar, em tudo que acontece a volta, e em forças que vêm de Deus, dos amigos, da família. Foi a tudo isso que me agarrei. A lembrança era a única presença concreta dela, as alegrias do dia tinham menos graça e o futuro parecia impossível ser bom sem minha mãe.
Com o tempo, estar no passado e no futuro a todo momento passou a ser “natural” Acredito que nunca deixarei de pensar em como foi bom tê-la aqui e até do que não foi tão legal. É um amor deveras eterno, preciso ter as lembranças comigo. Às vezes a memória traz lágrimas, outras sorrisos. O futuro antes com cara de pouco promissor, hoje me aparece com a missão de eu vivê-lo com tudo que for mandado, bom ou ruim. Eu acredito que ser feliz é o melhor, mas não o mais importante. Aprender, evoluir é o que conta e há um tipo de alegria nisso, mesmo que o caminho seja sofrido.
Também encaro como missão porque sei que ela não me perdoaria se eu me entregasse à tristeza sem fazer o melhor que posso para conquistar todos os sonhos que ela já sabia desde meus primeiros anos. Sei que ficaria muito decepcionada se eu me negasse a reagir diante dos problemas e dores.
E foi ao conhecer estes caminhos difíceis do luto que ficou menos complicado transitar entre o passado e futuro no presente. É como se mesmo que eu não goste da estrada tivesse que passar por ela todo dia. Daí, com o trajeto obrigatório, descobri detalhes, cheiros e até atalhos necessários. Tem hora que é como se fosse a primeira vez que eu viajasse por este caminho, mas passa, como tudo, tanto o que é bom quanto o que é ruim.