Homem mais feio do mundo viveu na Badia

Homem mais feio do mundo viveu na Badia

Dizem que o Zé Alazão era tão feio, mas tão feio, que eu até duvidava da existência dele. Não era um feio qualquer, era feiúra das bravas, segundo contam os meus conterrâneos de Martinho Campos (Badia) e Ibitira. O problema era que só haviam ouvido sobre o Zé, eu não tinha achado ninguém que tinha o visto, mas hoje minha avó contou que ele era frequentador assíduo do restaurante dela. Ela confirmou a existência dele, porém alegou que para ela é difícil dizer se Alazão era o mais feio do mundo, já que era uma pessoa boa, motivo de piadas, por isso tinha dó dele e sempre conversava em tom diferente dos que o deram o triste título da feiúra mundial.

Ela me contou que ao trombar com ele pelas ruas tinha gente que saía até correndo e passava a acreditar em lobisomem quando ele se mudou para lá. Depois, as sobrancelhas juntas, o sorriso amarelado e banguela, além dos pelos e pés achatados tornaram-se elementos para amedrontar criancinhas. Até ela, que era amiga do Zé, disse que o chamava quando a garotada arteira aprontava. Era tiro e queda, os meninos guardavam logo as travessuras e se comportavam como cordeirinhos.

Zé Alazão de certo era um forasteiro solitário. Chegava ao restaurante da minha avó sozinho e logo se tornava a piada do lugar. Sempre que tinha uma folguinha entre um prato e outra, a vó o puxava e tirava da roda da chacota. Afinal, ele tinha uma alma boa, só assustava pela aparência mesmo, porém, depois de conversar um pouco, logo se via que era um bom amigo.

Minha avó se mudou e nunca mais teve notícias do Zé a não ser a de que um dia ele entristeceu tanto com a própria feiúra que foi para Abaeté, uma cidade próxima. Quem sabe lá não o veriam de forma diferente, né? Mas não, em todo canto ele escutava bochichos sobre a semelhança com o lobisomem e o rosto medonho. Foi aí que ele decidiu entrar em uma igreja, Deus devia enxergar a alma dele e dar-lhe algum consolo.

Entrou na capela, rezou um terço e depois sentou na escadaria para chorar até que um homem chegou e perguntou:

“Por que você tanto chora?”

“Uai, as pessoas só veem minha feiúra, dizem que sou o homem mais feio do mundo”

“Ah, preocupa não, sô. Dizem que lá pelas bandas da Badia tem um muito pior: o Zé Alazão”

E o Zé tratou logo de encerrar a conversa:

“Pois é, satisfação, Zé Alazão, em carne, osso e feiúra”

Fim de papo.

Eu dava tudo para ver uma foto do Zé Alazão, mas como naquela época não tinha selfie, era preciso ir no retratista, eu fico com o relato da minha vó, o qual me mostrou que o homem era feio mesmo, mas como era bom ainda tenho dúvidas se merecia o título de mais feio do mundo.

 

Escritor por Talita Camargos Veja todos os textos deste autor →

Talita Camargos é jornalista e flerta com a literatura, procura inspiração em conversas de ônibus, flores, familiares e amigos. Idealizou o Texto do Dia e publicou nos 365 dias de 2015 neste blog como desafio pessoal.

Oi, o que achou do texto de hoje?

Você tem 4 comentários
  1. Allenylson at 16:14

    Olá! Que belo causo! Essas histórias são bem típicas do interior e daqueles mais velhos que têm muitas histórias para contar. Coitado do Zé, não devia ser fácil pra ele. Gostei bastante! Beijos.

  2. Gustavo Silveira at 1:14

    Oieee, tudo bem? Adorei o texto kkkk, lembrei daquelas histórias que as pessoas mais velhas gostavam de contar e aquelas histórias que são contadas na fogueira durante os acampamentos de campo, enfim, senti pena dela coitado kkkk. Adorei a postagem, Abraços.

  3. Lunna Marcela at 18:23

    kkkkk estas nossas avozinhas sempre povoando nosso imaginário com suas deliciosas histórias, pois Talita se a tua vó conversasse com a minha a segunda irira garantir que o tal do Zé só devia é de ser mesmo um lobisomem dos mais desalmados rsrsr Coitado do Zé e um grande viva para as contadoras de causos do nosso Brasil. bjss

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *