Pessoas práticas não dizem eu te amo, demonstram
Tem mãe que não deixa bilhetinho de eu te amo nem liga todo dia, mas demonstra que ama sempre. A minha era assim e eu morro de saudades. Era uma mulher prática, aqueles problemas espinhosos ela resolvia, reclamava quando eu ligava no meio de uma resolução, mas ajudava minha vida andar mais tranquilamente. Ela tinha tanta habilidade em descascar abacaxis que até os de quem não era da família ela pegava, sem pedir nada em troca. Tinha momentos que ela tomava um fôlego, respirava, escrevia um bilhetinho e me dava um beijo de boa noite quando eu já estava deitada, tenho a impressão que depois de deixar tudo em ordem pra gente e pros outros.
Quando eu comecei a entrar no mundo dos adultos comecei a ter esse jeito prático como referência. Em vez de reclamar dos problemas, penso logo no jeito de resolvê-los. E tudo que eu posso fazer para evitá-los eu faço. O que faço de diferente dela é parar um pouquinho para entender tudo que acontece, geralmente quando escrevo, para não deixar que a vida seja um amontoado de tarefas. Ela tinha um pouco disso também, descobri em cartas que escrevia para Deus, nas quais falava de tudo que ocorria e pedia bençãos. Eu confesso, nem sempre entendi essa praticidade toda, mas há tempos tento ser menos contemplativa e mais resolutiva. Apesar que contemplar é minha maneira de resolver o que acontece dentro de mim, onde moram as maiores complicações.
Compreendi que pessoas práticas têm encantos difíceis de entender. Procuram solucionar problemas, fazer a rotina render e às vezes deixam de mostrar o amor que guardam. Até porque problemas aparecem o tempo todo, não têm local específico para morar, são presenças certas em qualquer canto e elas querem eliminá-los o tempo todo, uma tarefa perpétua. Nas empresas são mais aceitas, em família a compreensão fica um pouco mais complicada. Teria que ser fácil, pois em vez de reclamar de algo que deu errado elas logo começam a pensar em como reverter a situação.
São pessoas que não deixam bilhetinhos com eu te amo no final com frequência, mas passam horas penduradas no telefone para desatar os nós da burocracia. Aí parece que tudo foi feito sem esforço em um passe de mágica, digo obrigada a elas e pronto, pois geralmente não reclamam de ter que fazer algo, resolver problemas, para elas, é rotina. Aí é que a gente deveria entender que os práticos não dizem tantos eu te amo, pois provam, sempre. Afinal, o prático demonstra que gosta de alguém ao se preocupar, fazer o que ninguém gosta e é super necessário. E quando digo eu te amo a um prático entendo o silêncio ou as palavras menos calorosas, às vezes ele esteja cansado de tudo que teve que ajudar a resolver.