Um ano que não acabou

Um ano que não acabou

Até 2012 eu não tinha  ideia de que a virada de um ano não é suficiente para colocar fim em um ciclo, que 12 meses podem durar décadas ou acabarem em um segundo…  De 87 até 2012 minha história acontecia de forma mais ou menos previsível, conforme  livros sobre a infância, adolescência e início da vida adulta descrevem. Em 2013 começou a mudar, ruim ou bom tornaram-se classificações muito pequenas para darem conta dos últimos anos.

Entre a vida e a morte passaram fizeram parte do meu dicionário. Não tive dúvidas em declarar meu amor, mesmo sem saber se o coma era ou não barreira para os ouvidos, me despedi e quando achei que ela já havia deixado todas as lições, encontrei cartas e fotos com gestos eternos. Foi em 2013, porém, o ano  atravessou minha vida e irá se arrastar até o fim dela, cada vez com menos tristeza e com um aprendizado que não acabará, com uma gratidão sem fim.

Iludida pela forma de ver o tempo, quando agosto marcou um ano do adeus em 2014  praguejei contra o mês pelo qual nunca tive muita simpatia, é mesmo um mês horroroso, venta, é feio. Celebrei a chegada de setembro, quando também comemorei um ano de casamento, era como se arrancar a folhinha do calendário marcasse a despedida da tristeza e chegada da alegria. Porém, com a primavera e datas bonitas tive que me despedir novamente, vi minha família em pedaços. Foi aí que lembrei de uma lição do meu pai quando me viu chorar no mês do cachorro louco:

Coisas boas e ruins chegam sem hora, mês ou dia marcados. A gente é que tem que ter o dom de enxergar o bem e saber encontrar felicidade, ou ao menos aprendizado, independente do momento.

Ontem, ao assistir o documentário sobre Tim Maia discordei do Tião da Tijuca exatamente por causa desse ensinamento. Quando ele perdeu o pai, aos 16 anos, ele disse:

A vida começa pela sobremesa e vai amargando.

De fato, se nos faltar talento para conviver com a dor e ver o belo ao mesmo tempo a tendência da vida é ficar intragável. Não há como negar que muitas datas nos deixam angustiados mesmo, pois a lembrança fica mais forte, mas ainda bem que tenho quem me faz enxergar de forma diferente.

Neste 2013 e 2014 vivi coisas horríveis, mais  ou menos, maravilhosas, boas e ruins, tudo junto. Seria impossível dizer que o saldo foi positivo ou negativo, se a ideia for listar numericamente o que ressaltou, dividir entre bem ou mau. Tá certo que alguns acontecimentos tiveram o peso do mundo sobre as costas, por vezes me vi cega com o que há ao redor, me convenci de que o sono é o melhor remédio, me fechar a melhor opção. Porém, se eu  me entregasse perderia a oportunidade de ser uma pessoa melhor, de progredir profissionalmente e de ajudar quem está a minha volta.

2014, como todos os outros anos, foi como a vida é, com alegrias imensas e tristezas inimagináveis. Fui forte, fraquejei e me refiz várias vezes. Por isso, neste início de ano peço saúde, paz, amor, felicidade e prosperidade, entretanto, não poderia deixar de desejar força, sabedoria para ser firme em qualquer situação. 2013 e 2014 não acabaram, vão me ensinar por séculos e têm me mostrado que estou aqui para me transformar, aprender, evoluir.

 

 

Escritor por Talita Camargos Veja todos os textos deste autor →

Talita Camargos é jornalista e flerta com a literatura, procura inspiração em conversas de ônibus, flores, familiares e amigos. Idealizou o Texto do Dia e publicou nos 365 dias de 2015 neste blog como desafio pessoal.

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