O amor e o tempo
Muito se fala sobre os meses iniciais de relacionamento, do frio na barriga, da incerteza dos primeiros encontros, do medo, da insegurança gostosa. A supervalorização desta fase e a maneira que se crucifica o tempo me incomoda, pois é muito legal descobrir que vale a pena viver por anos ao lado de uma mesma pessoa também. E só o tempo mostra isso.
No início, ao menos conhecemos as preferências do outro. Por isso, as tentativas de impressionar podem acabar em erros. Levar o namorado naquele restaurante japonês lindo e delicioso pode ser perfeito para você e o fim para ele. Com pouca intimidade para falar que não gosta de peixe crú, engole-se a seco a escolha de quem tentou fazer o melhor. Vai-se para casa com fome e um sorriso amarelo de agradecimento. Aconteceu comigo, só descobri dias depois que culinária oriental não agradava o moço.
Mas as revistas femininas não querem ver esta parte da história. Tanto é que há mais ou menos um milhão e meio de matérias sobre o tema. Existem dicas incontáveis para resgatar o clima do iníciopor causa do suposto tédio que uma união duradoura traz. Até concordo que a fase das descobertas é muito boa mesmo, mas convenhamos, não se diz quase nada sobre o que o tempo traz de bom para o amor. Talvez porque o que vem com ele é menos perfeição e muita realidade, é da natureza dele mostrar a verdade do outro e de nós mesmos. E aí temos que decidir se conseguimos ou não conviver com as imperfeições reveladas pela convivência. Afinal, como diz um velho e sábio clichê, ninguém é feito só de qualidades.
O tempo também deixa o dia a dia mais leve. É necessário entender que quando é amor o tempo traz conforto e não comodismo. Nada de horas em frente ao espelho e trocas de roupa intermináveis para receber o namorado em uma noite de quarta-feira que vocês vão ficar em casa. É claro que não dá para relaxar demais, usar aquela blusa de malha que você ganhou em 1997, porém não é preciso se preocupar exageradamente com a aparência. Também temos que nos conhecer nas situações cotidianas, sem maquiagem e apetrechos que escondam como somos.
Desconfio que não se fale nele como bom porque o tempo é duro, diz sem piedade nenhuma se devemos ou não continuar uma história a dois. É difícil descobrir que não dá mais, mas quem insiste em viver uma relação nada promissora vai ter um namoro sem graça mesmo, não tem dica de revista que salve.
Obs:
Texto postado originalmente no blog “Somos Dessas”