Complicações do trânsito
Em uma cidadezinha em que as ruas vêem mais gente e bicicleta do que carros e motos, as calçadas servem mais de lugar para sentar e prosear do que para andar. Em Ibitira, o povo caminha mesmo é no meio da rua, já que as vias seriam solitárias se assim não fossem ocupadas.
As distâncias são tão curtas que os carros saem mais para passear, pegar a estrada para a praia ou festas nos arredores do que para resolver questões do dia a dia. E por isso, não há autoescola. Antigamente, era para longe que as pessoas precisam ir para tirar a carteira.
Em uma das aulas há quilômetros de casa, uma mulher do distrito, Dora, comentou com o professor que seria difícil dirigir nas tranquilas ruas da cidade dela. Lá era tudo certinho, as pessoas atravessavam na faixa ou calçadas, sinais de trânsito diziam quando ela podia ou não seguir adiante.
O instrutor riu e falou que apostava que lá era bem mais simples, apesar da ausência de sinalização. Uns quarteirões a frente, a aluna e o professor viram uma mulher exatamente da forma que a aprendiz de motorista havia dito. E o homem logo disse:
– Olha aí, igual na sua cidade. Tá vendo? Aqui além de mais movimento ainda tem gente que faz igual lá.
O que ele não imaginava é que a caminhante era conterrânea da aluna, ela não parava de rir com a coincidência.
– Mas não é que a conheço? Posso buzinar e cumprimentar?
O instrutor deixou e com uma sonora buzinada ela disse:
– Oooooh, Bitira. Tá boa?
Os dois lembraram da história pelo resto das aulas e Dora tomou tanto gosto pela direção que não pensa duas vezes em tirar o carro para passear. Ela até ajuda quem quer ir passear e logo se oferece para dirigir. E seja em Ibitira ou na cidade grande, ela tira de letra os problemas do trânsito de Ibitira e da cidade grande.