“A vida não tem equilíbrio, só equilibristas”
Há um tempo digo que meu maior objetivo é viver em equilíbrio. Porém, desde que persigo uma vida equilibrada vi que estava um pouco enganada sobre a definição de equilíbrio. Só nos últimos dias descobri que ele e a disciplina podem me atrapalhar bastante a conseguir ficar de pé na corda bamba.
Desde o início de 2019, venho tentando dividir as horas de uma maneira que julgava equilibrada. As metas também estavam lá. De repente, minha vida estava cheia de normas. Havia horário de acordar, determinação de tarefas a serem cumpridas por dia, o momento exato de finalizar o expediente e muito mais. Tudo friamente calculado por quem sabe – mas ignorou – que o dia a dia é de humanas, só gosta de matemática nas datas de vencimentos dos boletos.
É por isso que fiquei totalmente desequilibrada com minhas regras. O que era para deixar tudo mais harmônico me enlouqueceu. Um dia, ao conversar com meu pai, ele disse algo que começou a mudar tudo. Contei sobre um plano que deveria se concretizar em seis meses. A reação dele foi: “planejo só o que farei hoje, mais nada”.
Primeiro, achei radical demais. Como uma pessoa pode querer viver apenas o hoje? Um absurdo!
Passei o dia em meio aos planejamentos e apagando incêndios assim que desliguei o telefonema. Nada aconteceu da maneira que previ. Parecia até que meu pai tinha conversado com Murphy para me dar uma lição. Em vez de sofrer, lembrei da voz mansa dele e da sabedoria quase que de boteco. Lembrei-me do poder do mindfulness. Trata-se de uma prática que defende viver o aqui e agora.
Deixei o amanhã pra depois e me concentrei no dia, como experimento. Gastei mais de 24 horas para notar o quão simples era a lógica do meu pai. Daí vi que era eu que parecia estar errada. O futuro ficou no lugar dele, lá na frente. Os acontecimentos do presente foram vividos no hoje.
Decidi que a minha regra seria somente: “um dia de cada vez, farei o melhor dentro do que o hoje me apresentar, sem ficar desequilibrada com os imprevistos”.
Assim comecei a internalizar esse novo jeito de levar o dia a dia, com comprometimento, sem neuras. Comecei a escrever este texto em setembro de 2019, quando esse diálogo aconteceu, mas não consegui concluir. Estranho entender a sabedoria de viver o aqui, agora, né? Veio o Coronavírus em 2020 pra me mostrar de vez que certeza mesmo só do segundo que estamos vivendo.
Comecei a digerir essa verdade quando vi um TED que o palestrante, o psiquiatra Marcelo Veras, começa com a sábia frase:
“A vida não tem equilíbrio, só equilibristas”. (Matéi Visniec)
De uma vez por todas, entendi que o que fazemos é nos equilibrar, o equilíbrio não existe, pois ele exige instabilidade. Estranho, porém mais real impossível.
Mudei meu objetivo. Tento entender o que o dia veio me ensinar, sem cair da corda bamba que é a travessia, como uma equilibrista que sabe que o equilíbrio é frágil, não aceita que se olhe para trás e te balança quando mira-se o chão. Equilíbrio pede que a gente olhe para frente sem perder a firmeza dos pés na corda bamba que é o aqui e agora!
Sobre o processo deste texto
Hoje eu não iria escrever. Mas abri a plataforma do blog e encontrei um texto começado em setembro do ano passado, depois de uma conversa com meu pai. Continuei após assistir um vídeo e terminei hoje (gastei nem 5 minutos). Tem produções que demandam tempo mesmo, não por causa da habilidade de quem faz, mas pelas lições que os dias ainda escondem.
Obrigado!
Seu texto muito muito bem…