Homenagem póstuma: um jeito bonito de trazer pra perto quem se foi!
Coloquei uma coroa de flores no cabelo e fui para o bloco em Divinópolis. Não é um acessório qualquer. Foi feito sob encomenda pela minha amiga Marcela Mesquita e a mãe dela, Mariângela, há uns 5 anos. O meu pedido foi que elas se inspirassem na guirlanda usada pela minha mãe quando ela se casou. Quando voltei do pré-Carnaval para casa, vi outra forma de lembrar de quem se foi. O Bandulino, que saiu pelas ruas de BH nesse sábado também, trouxe dois foliões que se despediram de nós recentemente – Mary Cardoso e Márcio Teixeira. Houve quem criticasse a homenagem póstuma. O argumento é aquele clichê de que as pessoas devem ser homenageadas apenas em vida.
Existe razão nesse ponto de vista. É verdade que devemos render homenagens a quem amamos quando estão fisicamente entre nós. Porém, discordo que isso deva acontecer só em vida. Tem quem não dê conta de fazer essas homenagens nem consegue ver qualquer coisa daqueles que morreram. O luto, como tudo, é particular. E é normal esse comportamento. Mas, para mim, as homenagens tiram o peso da perda.
O que resta depois da morte são as lembranças e os ensinamentos. Ao estampar o rosto da Mary e do Márcio, quem não conhecia os dois fica curioso e puxa conversa sobre a história. É aí que vem a oportunidade de mostrar o que eles deixaram de melhor. Eu, quando perguntam sobre a minha mãe, falo com alegria sobre o quanto era solidária e correta com todos. Também lembro das crianças que ela tanto amava e que deixaram claro que gostavam muito da tia Neuza em trabalhinhos da escola bíblica da qual ela tomava frente.
A Mary, que tinha recebido um prognóstico de pouco tempo de vida, era muito alegre. Viveu muito mais do que o previsto, 11 anos. Mais de uma década com um câncer que não tinha jeito, que não a impediu de viver intensamente. Nesse tempo, aproveitou como poucos. Se esbaldava nas festas, viajava, amava o Bandulino. Inclusive, ela, que trabalhava na Belotur, levou a charanga para BH em 2016 pela primeira vez. A bandinha continua a tocar no pré-Carnaval belo-horizontino, arrasta muita gente, sempre.
Do Márcio não conheço tanto a trajetória, mas sei o suficiente para admirá-lo. Era um escritor, adorava as histórias de Martinho Campos e fazia questão de preservá-las. Mantinha um site, ainda no ar, chamado Revista da Badia. Tenho certeza de que ele gostou da homenagem, já que durante sua jornada ele fez isso por outras pessoas.
Aliás, quando eu for embora (daqui a muitas décadas), não deem ouvidos aos que dizem que não é pra homenagear. Só não fale de mim ou me homenageie se o luto não te deixar fazer isso. Eu acredito que saberei. Porém, se do lado de lá não tiver como saber, quem ficou aqui vai me conhecer. É um jeito de eu continuar a viver.
No filme “Viva, a vida é uma festa”, a pessoa só deixa de existir quando nenhum humano vivo se lembra mais dela. Eu acredito nisso e não deixo quem foi amado por mim desaparecer. Em seis anos sem minha mãe, descobri várias formas de mantê-la comigo de uma maneira alegre. A tristeza aparece vez ou outra, porém tenho minhas alegrias relacionadas à ela mesmo com a ausência. Eu espero que todos que não têm como ver aqueles que amam em carne e osso mais encontrem formas felizes de deixá-los vivos.
Foto da capa deste texto: Deth da Gráfica