No fim das contas
Uma amiga me disse que estava fazendo uma lista de convidados com familiares e amigos de Divinópolis. Informou-me sobre a simplicidade da reunião e o número reduzido de pessoas que iriam. Minutos depois ela me avisa:
“Talitssss, só tenho você de amiga aqui para chamar”.
Dava para ouvir o riso surpreso dela do outro lado da tela. Comecei a fazer minha lista de amigos também, assim, por curiosidade, mentalmente. Já com a suspeita de que não chegaria a encher as duas mãos, fui dando nome para o polegar, anelar, mindinho… Literalmente, contei nos dedos.
Pensei naqueles que conheci em Ibitira, no segundo grau, na faculdade e locais de trabalho por onde passei. Desconsiderei as pessoas que convivo diariamente por causa de algum trabalho, pois o exercício era verificar quem me procura, e eu também, sem precisar necessariamente de mim e tem encontros comigo por algum motivo qualquer. Exclui da conta a minha família também, esses foram meus primeiros amigos e serão pra sempre.
Não cheguei a dez amigos no fim das contas, como imaginei. Poderia ser triste, mas não ter que dizer presente para o professor, bater ponto ou esbarrar com todos os moradores de Ibitira deixou-me bem mais perto das amizades a prova do tempo, da distância e dos interesses.
Eu e esta amiga não temos mais trabalhos para fazer juntas nem que nos encontrar obrigatoriamente todo dia, o que o emprego e a escola fazem. O nosso único interesse é a companhia uma da outra, as histórias às vezes até repetidas de quando nem imaginávamos como seria a vida hoje.
Nunca nos afastamos, embora os encontros sejam raros porque sempre moramos em lugares diferentes depois que nos formamos no segundo grau. Ela vai cada vez mais pra longe. Sempre planejo conhecer as casas dela, mas o tempo e o dinheiro muitas vezes me impedem. Só que a gente sempre pergunta “como estão as coisas” e naqueles momentos em que a vida muda pra sempre fazemos questão de estarmos juntas, de contar nem que seja no inbox do Facebook o que aconteceu.
Eu e essa amiga, em uma das vindas corridas dela pra cá, batemos papo no banco, enquanto não chamavam a senha dela. Tínhamos muitas desculpas para o encontro não acontecer, mas demos um jeito porque queríamos realmente nos falar.
No fim das contas é assim, restam poucos, mas que me bastam. São aqueles que quando algo de muito ruim ou bom acontece pensam, “tenho que contar pra ela”.
Não desprezo ninguém que já passou por mim, pelo contrário. As curvas do destino me mostraram que é algo natural, as pessoas foram importantes por um tempo e não é parar de ter contato que tira o valor do que foi vivido. Inclusive tenho certeza de que se esbarrar com amigos de infância por aí será como sentar no banquinho da praça de Ibitira com um sorvete de creme de ovos.
Porém existem amigos que são de dias, meses, semestres, outros de vida mesmo, um clichê que periga destruir a minha crônica, mas que é tão verdadeiro que não tem como eu deixá-lo de fora. Acompanhado desse lugar comum esses amigos que conto nos dedos se parecem com muitas ideias feitas, repetidas a torto e a direito.
O clichê que mais me deixa feliz sobre esses amigos de vida é que eles se parecem com quem é da família, não importa o que aconteça, nunca se distanciam por inteiro. São mesmo a família que escolhi.