Bença, vô
Pedir “bença” é ver pai, mãe, avós ou tios envolverem as nossas mãos em oração. É ser verdadeiramente abençoado, receber boas vibrações de quem mais nos quer bem. É carinho para eles, afeto, olho no olho por um breve instante capaz de abençoar por muito tempo.
Mesmo com o poder da “bença” preciso dizer que eu não tenho este costume. Acho bonito, um ato de respeito e uma das formas mais lindas de pedir e rezar para alguém. Chego perto dos meus avós, pai e tios, dou um abraço, mas nunca me lembro da bênção. Alguns deles fazem questão. Ao falar para minha avó “Tudo bem?” ela responde “Deus te abençoe” com um tom sutil de puxão de orelha. Estende a mão, nega meu abraço por um momento. Eu chego a ficar vermelha. Porém, a felicidade de ser abençoada mesmo sem pedir é maior que a vergonha.
Fui conversar com um grupo de idosos em Ibitira e o descontentamento com netos que não tomam “bença”, tipo eu, era geral. Quem tinha dezenas de netos comparava ou mostrava a diferença dos filhos pros filhos dos filhos. Certo é que aqueles que foram acostumados a pedir “bença” pedem-na em qualquer circunstância. Um dos participantes falava com orgulho do filho tomar “bença” pelo Facebook.
Um amigo da minha família não deixou nem que a morte dos pais fizesse o costume se perder. Ele mantém a foto dos dois no escritório e religiosamente pede “bença” quando chega para trabalhar e no final do expediente. Tenho certeza que lá do outro lado eles escutam o filho.
Ouço algumas pessoas pedirem a “bença” por telefone. Distantes dos pais, tios ou avós, o hábito continua forte. A tecnologia nem a morte fazem desaparecer o costume bonito daqueles que aprenderam a pedir esta verdadeira oração.
A mim resta receber a bença teimosa de minha avó. Sei que é válida do mesmo jeito, porém seria mais carinhoso da minha parte pedir. Pra mim é uma das mais bonitas e verdadeiras orações, uma poesia com a simplicidade do bem querer da família!