Pés quase descalços
Todas as vezes que coloco os pés em um par de chinelinho de dedo, ouço a voz da minha mãe: “Filha, coloca uma rasteirinha, pelo menos”. Ela sugeria trocar o calçado para ir à padaria de Ibitira e minha justificativa para não calçar nada mais arrumadinho era a terça-feira e os poucos habitantes do lugar. Ela insistia, respondia que por ser um lugarejo é que todos se observavam. Diante das tentativas, às vezes eu me rendia, outras não. Na verdade eu pouco me importava se me consideravam desleixada, na época.
Não, quando eu colocava Havianas elas não eram mais brancas com azul ou preto, a evolução havia chegado, entretanto, mãe sempre quer ter a filha elogiada e acho que a minha carregava o trauma do chinelo feio, ainda não enxergava que a linha tinha ficado mais bonita. Eu sim, e gostava. Quando sai da cidade, com 15 anos, veio o alerta para eu andar bonitinha, nada de chinelo Havaianas ou similares.
Só que quando cheguei na cidade grande média o chinelinho era o preferido de muitas, não só das ripongas, das relaxadas, porém de todas as tribos, o que incluía as patricinhas. Eu passei a ver Havaianas na escola, na fila do banco, da padaria, na praça e até no final de grandes bailes, eles traziam alívio e conforto para dançar. A alegria na pista com os pés quase no chão é quase inexplicável, o salto fica mesmo para a chegada, primeiras fotos, depois o Havaianas entra para o grand finale.
Pessoas de outros países ostentam o Havaianas no pé como se calçassem um par de Manolo. E olha que lá fora eles nem têm tantas opções. A Laurie, a mais recente amiga gringa, me disse triste que na França era muito caro e menos bonitas que as daqui. Havaianas também é escolha certa de quem vai para o exterior e quer agradar os anfitriões, eu mesma prometi um para a Laurie quando for visitá-la.
E é assim que me convenço de que o simples é mais gostoso e bonito. Bom saber que a simplicidade tá em alta. Pode parecer um detalhe, entretanto, de sapato apertado, desconfortável é impossível ser feliz. Quando tiro o salto ando alguns quarteirões a mais, sem dor, mais preocupada com o que vejo do que com uma salmora e massagem quando chegar em casa.
Tá certo que um par de Havaianas não cabe em qualquer lugar, mas me sinto bem mais a vontade onde são aceitos. Como diria Da Vinci, “Simplicidade é o mais alto grau de sofisticação”, só que, é custoso, Leoni retrucaria “Difícil é ser tão simples”.