CRAS, novos ibitirenses e pequenas polêmicas
Cidades pequenas, como Ibitira, têm vocação para o cuidado. Por mais que seja um lugar esquecido por quem está no poder, as pessoas preocupam-se umas com as outras. Há um disse me disse que incomoda muita gente também, é fato. Porém, é só acontecer algo ruim para ver todo mundo se juntar, sentir junto. Coisas boas também unem as pessoas, experimente ir a uma festa no interior, é outro clima.
Se você for do lugar então, a festa fica melhor ainda. Isso porque normalmente encontramos pessoas que acompanham-nos por anos. Ninguém é completamente desconhecido, pois se não conhece o protagonista da tragédia ou festança, sabe quem é o pai, mãe, irmão ou avó. E isso, em lugares pequenos, conta muito.
Entretanto, uma assistência maior, especializada, é muito benvinda. Em Ibitira, tal assistência tem chegado devagar. O Centro de Referência de Assistência Social(CRAS) chegou há pouco. Na verdade, o próprio CRAS é recente, surgiu em 2004. Para quem não sabe, foi criado, dentre outros objetivos, justamente para descentralizar a política de assistência social no Brasil. Ou seja, fazer com que atinja várias localidades, não só as grandes cidades. Funciona como a porta de entrada para a assistência social. Assim, se a família ou indivíduo precisar de encaminhamento para outras instituições, programas e profissionais, é feito lá.
Novos ibitirenses
Eu visitei a unidade de Ibitira e pude conhecer parte do trabalho. O grupo com o qual tive contato é composto por crianças. A orientadora social Priscilla Zica Pires acompanha os meninos juntamente com profissionais como assistente social, psicóloga, professora de dança e outros.
Entre as atividades realizadas estão as leituras do Texto do Dia. A garotada se identifica porque falam muito sobre as lendas, causos e ibitirenses marcantes. Ficaram curiosos para saberem quem eu sou. Eu, desde que recebi o convite, fiquei muito ansiosa para estar com eles. Quem está em Ibitira há mais tempo eu conheço, mas poucos são os mais novos que sei quem são.
Foi uma oportunidade única de conhecer os novos ibitirenses. Crianças que têm muito a ver com quem eu fui quando criança. Adoram contar uma história, amam as lendas de Ibitira, conhecem algumas das quais eu nunca havia ouvido falar. Têm o privilégio de brincar à moda antiga e conciliar com tecnologia. Uma das brincadeiras populares por lá é o Charle Charle, uma nova versão da peripécia com o copo, se lembram? Aquela sombria maneira de descobrir o que os espíritos tinham a nos dizer nos anos 90. Com o Charle Charle é quase a mesma coisa, poucos detalhes mudam.
Foi uma manhã que teve algumas polêmicas também. As 17 crianças me fizeram dezenas de perguntas. Ao responder que torcia para o Galo teve festa e descontentamento. Quando eu disse que amava sol os que moravam em ruas poeirentas, muito comuns por lá, discordaram. Quiseram saber sobre livros, minhas inspirações, carreira, de tudo um pouco.
Tanto carinho, com direito a artesanato de presente feito no CRAS, me deixou com vontade de voltar para conhecer mais do que é feito na instituição e as pessoas que o frequentam. O prédio está sendo adaptado, é onde funcionou a primeira escola de lá, depois a creche que frequentei. Depois das obras vai ficar ainda melhor, com aulas de informática, por exemplo.
Como participar das atividades do CRAS
A equipe do CRAS me contou que elas fazem a busca ativa em Ibitira. Vão nas casas para chamarem as pessoas a participarem dos grupos de convivência e a receberem a assistência social. No entanto, pode-se procurar o CRAS também, o que é objetivo dos colaboradores. Em Ibitira há atividades para crianças, adolescentes e quem está na terceira idade.