Quando o cordão umbilical e as raízes não se rompem por nada
Cada minuto que passo aqui nesse lugar tenho mais essa certeza. Já são quase 5 anos que ando de lá para cá, de cá para lá e, todas as vezes que é “hora de ir embora” há mudança de expressão e surgem coisas que fico por entender o motivo… Como por exemplo, uma dor na barriga repentina. Rsrs.
Às vezes quando falo daqui de Ibitira com satisfação exposta, muitos questionam: “Como gosta de um lugar onde não tem nada?”, “Como consegue suportar as fofocas de um lugar tão pequeno?”, “Não acredito que depois de formada ainda tem vontade de vim trabalhar por aqui…”
São frases assim que eu ouço e que me fazem pensar… Aqui é pequeno, aqui tem conversinha paralela, aqui o salário é baixo, aqui não tem quase nenhum emprego. Mas de uma coisa eu tenho certeza: Aqui tem mato que acalma, aqui tem poeira que não causa doença, aqui tem ar que limpa o pulmão da gente, e o principal, aqui tem uma essência boa que sobressai a todos os desagrados que vêm sobre nós. Tem porque eu já tive prova disso!
As pessoas desse lugar são diferentes, cada uma com particularidades que me pego rindo ao lembrar delas. Elas sentam ao seu lado no ônibus e não pedem licença, porém te dão um “bom dia” cheio de energia e se bobear, rendem uma boa prosa durante o percurso. Como aconteceu vários dias mês passado dentro do “Sarandi”, no caminho da Badia.
Acho que quando junta tudo isso é saudável, é acolhedor, é alegria em estar aqui, e mais, ver a solidariedade, o afeto das pessoas, a segurança em estar na companhia de quem quer que seja. Ah, é gratificante e eu não substituiria por nada.
Um cordão umbilical nem sempre se rompe quando é clampeado e cortado da sua mãe, porque exala emoção, sentimento e singularidade; as nossas raízes também não são rompidas de um lugar quando se tem envolvimento e uma vida inteira feita aqui. Não importa se a monotonia da vida cotidiana é presente, os afetos e desafetos nos preenchem e nos fazem dar menor valor à isso.
Não trocaria os meus pés sujos de poeira vermelha por uma sujeira de poeira preta… Não gostaria de trocar vários apertos de mão daqui por coisas duvidosas lá, não trocaria a porta daqui de casa, que é onde fico sentada sempre batendo um papo, não trocaria o alpendre da casa da vó Ni, principalmente aos domingos depois da missa, não trocaria a roça da dindinha e toda a tranquilidade daquele lugar, não trocaria os bares daqui e as comidas gostosas que tem, não trocaria a minha casa, a minha rua, a minha segurança, as “minhas” pessoas, o meu ponto de luz.
Precisar e tentar romper ou afastar esses laços é difícil; dói, aperta a garganta, mas lembrar que tudo o que fica não muda e não exige nada em troca, conforta, aquieta e te move para frente. Me move, me instiga e me deixa com muita saudade.
O significado de “descanso”, será sempre aqui, independente de qualquer coisa. O valor de coisas simples também consigo ter aqui, nos lugares, nas atitudes, nas pessoas e em tudo que fica e modifica, cada dia que venho e saio daqui… Não acrescenta o meu saldo material, mas preenche e completa aquela parte que é desgastada fora daqui, revigorando e expandindo a essência de tudo aquilo que preciso passar para o outro, cada dia mais.