De workaholic à lifeaholic – um caminho e tanto
Dona de mim, sem medo do escuro. Jovem, cheia de saúde, com dois diplomas na mão. Difícil imaginar que eu, com todas essas características, me enganaria. Forte, sempre soube o que queria e tinha menos de um quarto de século vividos. As aventuras em cidades centenas de vezes maiores do que a que fui criada nunca me intimidaram e nem que fosse aos trancos e barrancos eu conseguia o que queria. Achava até divertidos os meus percalços.
Mas comecei a pisar em falso quando a vida de gente grande se apresentou para mim de verdade. Picotei os cartões de crédito que eram dos meus pais, pedi um pra mim, tomei a obrigação de me virar, nem que pra isso fosse preciso trabalhar noite e dia. Eu precisava ir atrás de grana, conquistar a independência, já que tinha saído da universidade.
E isso porque os meus pais falavam que me ajudariam mesmo após a formatura. Eu os ignorei, escondi que o pagamento sempre atrasava e comprei tudo no cartão até que ele fosse bloqueado. Dei sorte de encontrar um emprego que andava em dia, negociei a dívida e a dona Neuza se foi sem saber que eu me endividei, algo que é evitado a todo custo lá em casa.
E mesmo depois que esta tempestade financeira passou, eu continuei a achar que trabalhar era a coisa mais importante do mundo. Comecei a emendar fins de semana, passar das 14 horas de trabalho. Achava que era o preço que eu tinha que pagar, as coisas eram assim e pronto, jovem tinha que se acabar no serviço, pois mais velho não teria forças. Assim eu até me culpava ao tirar folga, pensava na quantidade de trabalho que ainda tinha, “podia ter adiantado em vez de dormido”, essas bobagens todas que ficam na mente de quem é workaholic.
Só que um dia eu parei para pensar que esta tal de vida adulta, quando normalmente temos mais saúde, como graças a Deus tenho, é a etapa que estou mais incompleta(e cansada), como várias outras pessoas da minha faixa etária. Deixei muitas das coisas que eu gostava de fazer, cortei muitas festas, passeios para dar o melhor de mim no trabalho. Mas comecei a me questionar.
Se mais velha eu não teria força suficiente para trabalhar, pra fazer outras coisas eu teria?
Será que a vida é mesmo aproveitar o vigor da juventude para depois ficar quieto sem ao menos conseguir trabalhar de tão desgastada?
Essas perguntas deram um nó na minha cabeça e na garganta. Nas conversas que eu tive com a Cristina Granado, minha coaching, ficou ainda mais claro o quanto isso não fazia sentido, ainda mais com o perfil de quem quer desbravar as fronteiras do mundo e as minhas próprias ao me auto-conhecer como gosto.
Trabalho ainda estará em altas doses na minha vida por um bom tempo. Hoje, por exemplo, já passei das doze horas no batente. No entanto, tenho aprendido a me permitir ter um domingo inteiro de descanso ou dedicado a mim. Eu cai na armadilha de pensar que a carreira é tudo, enquanto ele é só uma parte da existência, muito válida, que me enche de alegria. Porém, como tudo, pode vir na medida certa, com pausas deliciosas.
Engraçado é que no mesmo dia que eu decretei a minha alforria, dei de cara com a expressão que mais bem define o que procuro de agora em diante, antônima ao que me transformei de uns tempos para cá: LIFEAHOLIC. É isto que quero ser, ter uma vida tão equilibrada, em todos os sentidos.
Ser workaholic é mesmo um vício, por isso essa transformação tem sido gradual e muito gostosa. Às vezes me pego em um fim de semana pensando em um artigo que devia ser redigido, mas me controlo e concentro em outras atividades. É um vício, por isso de vez em sempre quando quase caio na armadilha de apenas trabalhar. Porém, o destino é ter uma vida mais intensa e completa. Se eu tenho sonhos atualmente, o maior deles é ser Lifeaholic. I will be!
Parabéns! rss (me vi…rss)