Luto: o tempo não é o melhor remédio, o amor sim
A frase que eu mais ouvi de consolo quando minha mãe partiu é que o tempo se encarregaria de deixar minha dor mais suave. Eu meio que acreditava porque tinha que me agarrar a tudo que parecia como remédio para o luto. No entanto, um dia, não me lembro mais quem, disse que é o amor que nos salva. Maior verdade não há!
Já havia passado um tempo que minha mãe tinha morrido quando escutei isso e o calendário de fato me trazia umas pontadas de sofrimento maior em datas marcantes, diminuídas com o passar dos meses e desses poucos anos sem ela, na maioria dos dias. Mas houve momentos que o tempo parecia não ter surtido efeito nenhum. E nessas horas foi o amor que me salvou.
O amor de quem ficou aqui, especialmente dos familiares, de Deus, do mundo comigo, meu amor próprio e o amor meu pela dona Neuza, que continuou a crescer. Dela por mim também, porque eu sinto ela me amar. Sem esses amores tenho certeza que o tempo pouco adiantaria porque em alguns momentos é como se os ponteiros tivessem parado naquele 16 de agosto.
Nesses instantes de tristeza que só sabe quem sente eu me lembro de quem ficou aqui, do quanto sinto o amor da minha mãe e do meu amor pela vida, o qual me mostra que preciso continuar e que os laços com ela nunca vão se desfazer. Se estou com os que amo a dor fica menos aguda e ganho forças.
Paradoxo da dor
Às vezes chego à conclusão que a dor só passa doendo e deixo ela lá, sem brigar, tento entender o que ela quer me dizer, ensinar. Porque é uma dorzinha teimosa, dói, depois para e volta, e de jeitos diferentes. Mas também passa ou fica suportável se há amor e deixo me contagiar por ele.
O tempo é um remédio que falha por vezes. A saudade tem várias faces e uma delas faz os dias voltarem, o coração e até o corpo doerem. Já o amor é remédio certo. É ele que me faz continuar com fé e amando quem já se foi, quem está aqui, a vida, o mundo e meus novos caminhos.