Três gols com gosto de derrota
Ele era titular absoluto, promessa de craque aos 10 anos de idade. Marcava em todos os treinos e jogos – golaços. Na escola, hora do recreio, escolhia os meninos pro time, nunca ficava para ser escolhido, pois era sempre a primeira opção de quem quer que começasse, dependia da sorte no par ou ímpar ter o melhor camisa 9 no ataque.
O pai colocou-o no time dos meninos da equipe de futebol amador da cidade. Que sorte do clube! Era famoso na região, buscado pra jogar até em partida de família. Muita gente o adotou por causa da bolota. No entanto, o compromisso mais importante foi no campeonato regional júnior. Ele levou o time pra semi-final, estava prestes a ganhar o primeiro título e ser consagrado de vez.
Brilhou! Fez o primeiro gol de bicicleta, o segundo mandou na gaveta – onde goleiro nenhum consegue catar. O terceiro foi de pênalti, sem chances de novo pro coitado que tentava defender o time. Homenageou o pai, mãe e o irmãozinho.
Mas, não foi pra final, o adversário fez 5, os três gols do pequeno craque tinha o gosto de derrota. O lateral um, o centroavante outro, um meio de campo, o goleiro ao bater uma falta e até um zagueiro. Metade do time marcou, na equipe do pequeno craque só ele.
Saiu de campo aos prantos. Correu para o vestiário sem falar com ninguém enquanto no outro time todo mundo comemorava.
Tentaram animar o menino – “E aí, qual música vai pedir no Fantástico?”. Chorou mais ainda.
Daquele dia em diante pediu a braçadeira de capitão. Conquistou-a e deu início a um trabalho mais nobre do que marcar em todos os jogos. Chamou para si a responsabilidade de comandar os companheiros, coordenar, fazer os outros atletas darem o melhor no gramado.
Ganhou alguns jogos, perdeu outros. Deixou de ser destaque sozinho, passou a fazer parte de um grande time, sem choro, ciente de que havia feito o melhor por todos, sempre, e que a vitória dependia de muito mais gente do que dele!