Só há uma coisa a fazer
É estranho pensar viver em uma cidade e não ter chance de conhecê-la, não ter ninguém para visitar ou simplesmente não conseguir pensar nas etapas que são necessárias para chegar ao destino almejado. Mais estranho ainda, é pensar no que eles tiveram de tão diferente que a nossa sociedade capitalista e egoísta não teve tempo, ou não quis ter, e preferiu prendê-los.
Entre um descanso e outro, penso no que os tornou tão apáticos e o quão sofrido foi passar pelo processo de modulação para se aprender a viver dentro da gaiola. Idosos, em sua maioria, sem família, vontades, autonomia, independência e com um teto, mas que não conseguem reconhecer como seu. Foi tirado deles o direito de viver, sonhar, lutar e sofrer, mas não pela privação da vida e sim pelas vivências propiciadas por ela.
Penso e me entristeço. Me vem a mente palavras como cidadania, direitos, respeito, amor, tolerância, acolhimento, delicadeza…. Onde e por que, constantemente, não conseguimos usá-las e aplicar o que elas nos propõem? Atitudes simples, como andar de cabeça erguida ou puxar um papo com o próximo se tornam difíceis.
Logo em um momento da vida em que geralmente se conquista a “alforria” para ter essas atitudes, sem culpa. Estar nesse cenário não é fácil e o trabalho de empoderamento, da própria vida, é diário. Novas condutas são adotadas na tentativa de outra modulação, agora para vida em sociedade, faz meus olhos sorrirem e a vontade de prosseguir é revigorada.
Uma música toca ao fundo, o meu acompanhante está fumando e andando em círculos batendo o pé firmemente contra o chão, o que não é de costume. Ele para, me olha sorrindo e me pergunta: “Sabe por que estou fazendo assim?” Eu respondi – “não sei, me conta”! E ele me dá a resposta mais óbvia e encantadora possível- “quando uma música toca a gente tem que acompanhar!”.
Leitura complementar:
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