Promessas de Ano-Velho
Por muitos anos eu fiz promessas de Ano-Novo. Cumpria duas ou três e descobri porque. O Ano-Novo fica velho rapidinho, passa em um piscar de olhos pelo semi-novo, o tal do meio do ano, e em uns meses de nada fica jogado junto às datas comemorativas, obrigações, urgências. As promessas continuavam a ser de Ano-Novo no ano velho – ficavam guardadas até que um outro Ano-Novo chegasse.
E lá ia eu. Custava esperar dezembro para colocar no papel novamente as promessas de Ano-Novo, raramente com alguma novidade. Na verdade, já eram de Ano-Velho, porém a miopia que o tempo traz em 12 meses me fazia vê-las como recém-nascidas. A realidade é que eu dava uma recauchutada nas promessas – a folha em branco, um número a mais no calendário pintavam uma falsa cara nova para elas, como as casas que levam uma mão de tinta de tempos em tempos.
Promessas pra valer
Eu continuei a chegar no dia 31 de dezembro com 2 ou 3 promessas cumpridas a cada final de ano velho até que mudei o nome da minha lista para Promessas de Ano-Todo. Assim eu tirava a folha da caixinha de guardados frequentemente. As promessas respiravam e eu me perguntava quais iria conseguir cumprir antes que os 12 meses se esgotassem. O papel parou de chegar ao fim do ano amarelado e o número de oks na lista aumentaram.
Porém, olhar para ela me fez mais do que correr atrás do que eu havia planejado. O ano tinha 12 meses para existir, meus desejos tinham um ciclo de vida diferente, indefinido. Algumas vezes eu nem reconhecia meu sonho na folha, o que me fazia retirar sem nenhum pesar da minha lista de objetivos, pois a vida havia me apresentado outros horizontes. Outros eu ainda queria, porém o mais acertado era colocá-los na lista do ano seguinte mesmo.
Peraí, é desejo ou promessa? Ah, é um desejo que se transforma em promessa para eu me forçar a ir em busca do que sempre quis e deixo para depois. Transformo o sonho em promessa como um compromisso comigo. É um safanão que dou em mim, um “cuide de seus sonhos” para deixar de viver só na base das obrigações. Assim não tem graça. Por isso desejo vira promessa, para deixar de ser só o que se promete, por mais besta que possa soar.
Os desejos têm uma dança com ritmos diferentes, nunca estão imóveis e se transformam, são tão dinâmicos como a existência, agarrar-me a uma lista seria a maior besteira que eu poderia fazer. O destino do desejo é deixar de existir. Eu faço listas sim, a cada início de ano. Parar para pensar à tinta sempre me fez bem, me dá forças para seguir e até me mostra o que eu nem sabia até escrever. No entanto, como os melhores textos, meus desejos transformados em promessas para que se concretizam, também são editados e melhoram com o tempo e as releituras.
Eu faço listas de resoluções de ano novo mas quase nunca as cumpro também,mas acho que é saudável continuar a fazê-las,dá uma sensação de organização e esperança.
bjsss
Apaixonadas por Livros