Esperar a vez de falar não é dar pausa para ouvir
Quase ninguém se cala para escutar, apenas espera a vez de falar ou nem isso – atropela a fala do outro, transforma o que era pra ser uma conversa em briga. O silêncio enquanto outra pessoa fala pode até existir, mas dentro da cabeça as falas quando puder discursar de novo gritam. Daí, pode acontecer de haver falas completamente iguais após a pessoa que acabou de conversar dar a vez ao outro. Em algumas situações acontece até de com a mesma opinião existir discordância.
Não se presta atenção ao que é dito, só há uma pausa para falar de novo, e de novo e de novo. Abrir mão de se pronunciar também é algo difícil. Mesmo que a opinião seja a mesma, o que se quer é ter os créditos de quem deu a ideia brilhante, a solução. E já me deparei com muita gente que mudou de opinião só pra dizer que tinha um argumento diferente.
Eu sou faladeira, uma maritaca. E o que tenho aprendido de uns anos pra cá é de dar mais ouvidos aos outros. Admito que em algumas situações eu tentava falar mais por medo de a pessoa me falar algo que eu não gostasse. O pensamento era mais ou menos assim: “Já sei o que ela pensa, quem sabe se eu não argumentar antes ela não mude de ideia, fique sem graça de me decepcionar?”
Sim, falar demais, sem dar nenhuma deixa pro outro é confissão de que o medo de ouvir existe. Só que pode acontecer a descoberta do que nunca se havia pensado, visto. Um mundo se abre quando se ouve e ideias bem melhores surgem. Ainda falo demais, porém tenho tentado escutar atentamente, como exercício mesmo, pois minhas histórias, o que penso, eu já sei de cor, e o que o outro pensa? Posso imaginar que sei, e frequentemente estou errada, muito!
Aventurar-me a escutar é correr um risco, claro, de ser contrariada. Porém, ter os olhos abertos para pontos de vista contrários pode ser ótimo, uma fonte de aprendizado e se a pessoa souber ouvir também a construção de uma terceira via, o que não era nem a ideia inicial de uma nem de outra, mas muito melhor.