Tisnado: o vendedor que tinha que mandar os clientes voltarem no dia seguinte
Na vendinha do Seu Tisnado tinha tudo, tudo mesmo. Era tanta coisa que nem sempre ele encontrava o que o cliente queria e pedia que ele voltasse no dia seguinte pra buscar.
Não tinha nem jeito de falar que era para ele providenciar o que faltava. Naquela época, os mercadinhos eram abastecidos por viajantes que passavam na cidade. E como naquele tempo a pressa era bem menor, todo mundo entendia.
Com o tempo, o povo até se acostumou: quando sabia que precisava de algo ia com antecedência no seu Tisnado e fazia a encomenda. Ninguém nem cogitava a hipótese de fazer a compra em outro lugar porque os mercadinhos eram poucos na cidade, além disso, no seu Tisnado era certo de encontrar o que queria (no dia seguinte, claro), era só ter paciência. Quando o produto pedido estava fora das vistas ele falava:
– Oh fio, ter tem, mas preciso procurar. Cê volta aqui amanhã?
Quem era mais atarefado até mandava a meninada subir a ladeira e fazer a compra, ops, pedido. Porém, se tinha uma coisa que ficava no lugar certinho eram os jornais, pois nem eram só mercadorias que o povo ia lá procurar. Seu Tisnado lia os jornais todos os dias e nunca os usava para embrulhar nada, via valor por demais nas notícias. Guardava todos. E como na época TV não era para todos, quem queria saber o que estava acontecendo no mundo ia lá. As publicações ele encontrava com mais facilidade do que certos produtos.
A prosa era boa também. Seu Tisnado lia muito, o que fazia dele um homem muito interessante. A resposta vinha certeira quando ele era perguntado. Quando por acaso a dúvida vinha, era só procurar na pilha de jornais para dar a informação certinha.
Sobre o texto:
A história do seu Tisnado foi contada pelo meu pai que morou lá em Pitangui. Complementei algumas informações e fotos do blog Daqui de Pitangui.
Errata:
Seu Tisnado era tão bom comerciante que meu pai achou que ele era libanês, por isso na primeira versão deste texto eu coloquei o que me contou. Como podem ver abaixo, um parente do Tisnado me corrigiu, por isso editei o texto.
Talita, uma correção.
Tisnado, meu tio avô, nasceu e viveu em Pitangui.
Nasceu, provavelmente em uma daquelas duas casas antigas em frente ao grupo novo, que já pertenceu ao meu bisavô materno, Luiz Cometa, de onde mudou ainda bem criança para aquele casarão onde existiu a venda e onde veio a falecer.
Não tem descendência libanesa.
As viagens que ele fez: a Pompéu, quando jovem, onde teve uma namorada, que cheguei a conhecer, já bem idosa, solteirona e apaixonada por ele; outra viagem, poucas vezes, bem poucas, foi a Belo Horizonte.
Posso dizer que ele só viveu naquele local.
Agostinho,
O libanês ficou por conta da imaginação do meu pai e confiei, pois ele viveu em Pitagui por bons anos, mas irei corrigir e colocar uma errata no final. Obrigada pela informação. Um abraço!
Oi Agostinho, so hoje vi o comentario, pensava sinceramente que o Tisnado era Libanes!!! Fomos colegas no colegio, grande abraco!
Muito bom quando ver uma jornalista falar da cidade onde nasci e do nosso povo.
Oi meu nome Glayson
Sou de Pitangui
Obrigado por trazer lembranças do seu tisnado
Pois eu era muito criança e me lembro muito bem da venda dele
Mas não dos detalhes aqui falado
Pois me lembro é que depois da aula passava nós na porta da venda e batíamos na porta pra ver ele nos chingar
Abraço
Muito bem escrito. Parabéns, Talita. Sou William Santiago, amigo de seu pai. Vai em frente.
Olá, Santiago!
Que alegria receber seu comentário. Meu pai sempre me fala sobre você. Obrigada pela companhia!