O assassinato e outras histórias – livro de contos para pensar
O escritor russo Anton Tchekhov, morto em 1904, é autor de obras atemporais. Confesso que “O assassinato e outras histórias” é o primeiro livro que li dele, mas a melhor peça teatral que assisti até então é baseada em um texto de Tchekhov, Tio Vania – além disso, os escritores da Rússia me ganham facilmente, pois sabem mostrar o que é universal na humanidade com uma verdade dura, mas poética.
Com Anton Tchekhov não foi diferente. Não há histórias com reviravoltas mirabolantes, em cada linha é como se eu lesse o passar dos anos da vida de um homem comum, que acreditou se casar com a melhor mulher do mundo e viu o casamento perder a cor com os anos, de gente que só diz obviedades e leva o cotidiano em banho maria até o dia final. É claro que há registros dos tempos vividos pelo escritor e se fizermos as devidas adaptações veremos que é tudo mais ou menos igual. Ele menciona que um médica começou a ganhar mais e a carruagem não era mais puxada por dois cavalos, porém por três. Não é nada difícil lembrar que quando uma pessoa começa a ter mais condições, é comum que ela adquira um carro mais pontente.
Há muitos detalhes como esse, interessantes, entretanto não é o mais legal da obra. O melhor é ver que o homem não muda. A vida do final do século XIX, início do século XX é muito parecida com a de hoje na essência e deve continuar a ser enquanto existir humanidade. As pessoas acham que são o máximo quando tocam piano em suas cidadezinhas, mas quando saem para o mundo concorrem com outras centenas e podem ser reduzidas a nada.
São contos muito simples e ao mesmo tempo super profundos por mostrar a condição de todos. O fantástico é a maneira que ele conta, a forma, a poesia que o russo usa para falar do dia a dia.
Agradecimento:
O livro que resenhei hoje parecia destinado para mim. Veio parar nas minhas mãos depois de um papo sobre literatura com Júlio Fernández, leitor do blog, que nunca me viu pessoalmente, mas fez questão de encaminhá-lo. Ele também me mandou o “Trilogia suja de Havana” que quase pode pedir música, pois foi indicado por duas pessoas no mesmo dia. Além do Júlio, o escritor Jim Carbonera falou muito bem sobre ele. Depois da experiência com o “Assassinato…” não posso esperar nada menos do que um livro excelente, já que foi recomendado por dois, um deles o responsável por eu ler o Anton Tchekhov. Obrigada, Júlio!