Criança travessa, o Teleton e o castigo
Uma menina de 8 anos sente deveras. Quando se comove com o sofrimento de alguém sente na carne. Larissa nunca havia visto tanta criança da idade dela não poder fazer o que era tão simples – escovar os dentes sozinha, andar, correr, falar e até ouvir. Foi o Teleton que apresentou meninos e meninas com necessidades diferentes das que ela conhecia. Na cidadezinha em que vivia, podia-se contar nos dedos quantos precisariam de lugares como a AACD.
Para Larissa, os maiores problemas eram os horários de ficar na rua, moedinhas para gastar na praça, comprar as roupas iguais da amiguinha preferida.
Os olhos não paravam de derramar lágrimas com tanta história impressionante, garotos e garotas de sorriso fácil mesmo com tanta dificuldade. E ela pensava: eu não posso fazer nada por eles. O choro só parou um pouco quando ela ouviu a Hebe Camargo dizer que ela podia doar R$5, R$15, R$20, R$30, R$50 com uma simples ligação. Pronto, Larissa fez a primeira doação da vida.
E não parou por aí. Durante toda transmissão do programa, sempre que alguém repetia o telefone, ela discava. Foi deste jeito com Sílvio Santos, Gugu, Angélica e mais uns 10 até que o Teleton chegasse ao fim.
Ela ficou muito feliz com a boa ação. Daquele dia em diante, ela sempre pedia por papai, mamãe, as amiguinhas da Escolinha Estrelinhas Sorridentes, pelo irmão e por todas as crianças da AACD.
A felicidade só não foi maior porque a mãe ficou brava por demais com a conta. R$ 300 de doação. No fundo, ficou orgulhosa da menina ter ficado tão comovida, mas o que aconteceria se ela deixasse aquela travessura ingênua passar? E se todo número que ela visse na TV se transformasse em uma diversão tão cara para a mãe?
Não teve jeito. Proibiu a menina de andar de patins por um mês. Não adiantou Larissa contar que foi de coração, que mesmo depois do programa todo dia rezava por quem precisava da AACD ou aquelas que precisassem de instituições parecidas.
A mãe não abriu mão do castigo, mas o depoimento sincero da filha funcionou pra algo bem maior. Todos os dias não era apenas Larissa que rezava para a garotada mais e a cada edição as duas, mesmo em casas separadas, doam. Menos que R$ 300, mas um valor que faz a diferença sempre.