Idosa do amanhã
Estar na terceira idade é ter um pouco da infância na vida com toda experiência da meninice, adolescência, juventude. Os afazeres obrigatórios tendem a diminuir com a aposentadoria e tem-se mais tempo. É certo que vem as dores e muitos ficam sem saber o que fazer sem ser obrigado a bater ponto. É comum até que muitos fiquem tristes, aborrecidos em vez de aproveitarem. Em alguns casos, as condições de saúde pouco ajudam e a idade pesa, é necessário pedir ajuda, como no início da vida a dependência é maior.
Mas aqueles que conseguem aproveitar a velhice como eu quero se esbaldam. Sem ter que prestar contas para um chefe, com os filhos casados e quase sempre longe dos olhos, pode-se ir ao forró, farrear a vontade nas viagens, falar o que se quer. Na última festa que fui vi exatamente isto. As mais velhas eram as mais livres, até pular na piscina de calcinha e sutien se permitiram. As jovens não, ficaram ali derretendo-se de calor e vontade.
E se os maridos, namorados, noivos soubessem? Haja explicação para esta faceta adolescente de quando se tem um pouco mais de idade.
É por isso que usualmente os papéis se invertem. Em vez de os pais ligarem de hora em hora, muitos perdem a noção do tempo e, por serem mais velhos, pensam não ter que dar satisfação, ainda mais pra filho. Não ouvi de um apenas que o pai ou a mãe esquece de dar notícias. E pior, nem atendem ao telefone (sinto na pele), eita!
Evidente que nem todos se comportam assim, mas há casos e mais casos de filhos tão preocupados quanto os pais em outras épocas. É uma espécie de revide.
Nem todo mundo tem a oportunidade de poder aproveitar tudo que a terceira idade permite. Há preconceito demais e ao contrário das crianças, muitos não enxergam a graça dos nossos grisalhos (ou outra cor por causa da tinta) de pele enrugada. Eu nunca me afastei das pessoas mais velhas, pelo contrário. Houve uma época que visitava, com frequência, um asilo, o que quero voltar a fazer.
Como muitos tem loucura por crianças, tenho por idosos. Alguns até estranham, me acham esquisita. Mas acho lindo o que eles dizem nesta fase da vida. Acredite, é tão interessante quanto as histórias dos meninos e meninas de pouca idade. E eles precisam de tanta atenção quanto os garotinhos, quanto qualquer pessoa, na verdade, e a maioria esquece que estão no extremo da vida, como quem acaba de nascer, só que na outra ponta.
Eu quero ser uma idosa livre, que se esbalda. Mas se minha saúde não permitir, desejo a sorte de encontrar quem pegue na minha mão enrugada e escute minhas memórias, que faça festa pelo simples fato de escutar quem é velho com carências de criança, ideias de adolescente e os pesares da terceira idade. Se Deus me agraciar com saúde (assim seja), quero jovens que entendam minha loucura e amigas que me acompanhem.