Ataque de pirambeba tira craque (e título) do Kosmos de Ibitira
O campeonato amador de Ibitira e região tinha um favorito naquele tempo – o Kosmos. E ninguém tinha dúvidas de quem era o craque do momento – o Carlinhos da dona Rita e seu Alonso. Quanto orgulho para o pai, que tinha escolhido nome de craque para ele, Carlos Alberto e para outro filho – Julinho. Os dois jogavam juntos, mas o Carlinhos se destacava mais. Era um jogador decisivo, daqueles que arrematam o placar, aparecia quando precisava. Os dribles o deixaram famoso na região e as pessoas apostavam que ele tinha futuro.
Só que um dia, depois de 12 jogos de invencibilidade, líder do campeonato, e com Carlinhos como artilheiro, o craque decidiu relaxar para poder fazer mais arte com os pés ainda. Foi para a praia de Lagoa da Prata em uma excursão. No ônibus, ele era uma das atrações, não dava autógrafo porque o povo ficava com vergonha. Só o Zezinho, garotinho de cinco anos, encorajado pela pouca idade, que pediu. Ele queria garantir o autógrafo do futuro craque da seleção canarinho.
Já em Lagoa da Prata, o craque do Kosmos decidiu dar um mergulho. De repente, sentiu uma mordida no pé, depois outra e saiu correndo, só que desta vez fora das quatro linhas. O sangue jorrava e ele chorava de dor. Ele tinha sido vítima de um ataque de pirambeba, uma prima das temidas piranhas. Na farmácia, enfaixou o pé. Chegou na véspera do jogo sem conseguir calçar nem chinelo, quem dirá chuteiras e dar um trato na bolota. Quando a turma viu Carlinhos descer escorado de um lado pela mãe e de outro por um amigo, os sorrisos se desfizeram. Julinho mal podia acreditar no que via. O Deio, outro irmão, pensava que era um pesadelo.
O time perdeu o Messi do futebol amador da época. Mas o Kosmos tinha que entrar em campo, pelo Carlinhos, para defender o título, honrar a camisa. Só que a tristeza deixou todo mundo abatido, sem graça e motivação. O time perdeu pela primeira vez em uma partida decisiva. No jogo de volta não conseguir reverter a diferença, ainda sem Carlinhos, e ficou fora do campeonato. Sem craque, sem motivação, sem título.
E oh, Carlinhos teve falta de sorte dupla. No banco de reservas, um homem de preto, chegou perto dele e disse: “Quem é o Carlinhos, o craque?”. Ele quase mentiu de tanta raiva, mas acabou contando. Era um olheiro de futebol profissional, visto por ele só naquele dia.