Ciranda amorosa das desilusões
Tamara era uma mulher bonita, interessante, inteligente, tinha um bom emprego, boa família. Saía comigo pelo menos de sexta até domingo. Tínhamos paqueras, avaliávamos os pretendentes uma da outro no meio da balada para não deixar que nos metêssemos em enrascadas ou com o cara errado, nem que fosse só por uma noite. Ou, quando queríamos só uma noitada, nos divertir, que o par fosse bonitinho. Segunda opinião, em uma boate escura, deixa os gatos sempre pardos, é bom ouvir. E o relacionamento com Carlos começou com meu aval, como eu me arrependo de ter incentivado.
Na conversa no banheiro, comentei que havia achado-o gatinho, e ainda tinha bom papo. Parecia ser um pouco volúvel, já que dizia que nunca havia ficado sozinho nos últimos cinco anos, mas o tempo máximo de namoro foi de 8 meses. Só que era uma daquelas noites para nos divertir com eles, como tantas outras, sem nenhuma consequência na manhã seguinte, apenas mais um carinha. Tamara foi. Naquele dia, ela não voltou para casa comigo. Passou semanas sem marcar nenhum programa, nem que fosse ver um filme em uma noite tranquila de quinta. Parou de ligar, sumiu das redes sociais, mandava um WhatsApp ou outro para dar um oi e contar das idas ao cinema, batizados, baladas com a turma do Carlos.
Parecia tudo muito bem. Ela estava com um homem bonito, que tinha um emprego mediano e com a conversa interessante. Eu sentia falta de Tamara, porém, ela namorava e eu não podia atrapalhar. Só que quatro semanas depois, me mandou um áudio choroso. Carlos parou de ligar. Do nada desapareceu. Ela, que ainda não conhecia a família, tentou encontrar o número dos amigos, que também não tinha. Foi ao prédio, perguntou ao porteiro se ele havia se mudado e a resposta era não. Alterou a pergunta: ele está aí? Tá doente, sem poder sair? Não, ele saía e voltava para casa nos mesmos horários praticamente, nada fora da rotina. Foi aí que o porteiro soltou:
— Mudar mesmo só a falta da companhia da senhorita, ele tem chegado e saído sozinho.
Ela respirou aliviada e decidiu esperar ali até ele chegar. Amargou umas horas na portaria para escutar que não tinha coragem de procurá-la. Não sabia como terminar com uma mulher fantástica, inteligente, bonita, bem-sucedida. Afirmou ainda que pensou que tudo não passaria de uma noite, porém não teve como deixar de dizer sim às investidas dela.
Não importava o que ele dissesse, Tamara se sentia a mulher mais feia e burra da história. Burra por não ter percebido que ele só queria brincar, por ter deixado se envolver. Agora era tarde, como faria para esquecer Carlos? A única resposta que consegui dar para a pergunta de Tamara foi se ela lembrava de quantos carinhas ela havia dado end no telefone, deixado de responder as mensagens por não querer se envolver. Lembrei-a de que o envolvimento dela com Carlos tinha menos de um mês e que poderíamos voltar a sair de novo, como era antes.
No início, ela discordou. Semanas depois me chamou para a balada. Parecia que tudo corria como antes. O escolhido da vez era também bonito, bom de papo. Apoiei e disse para ir com calma. Ele levou nós duas para minha casa. Semanas depois, encontrei com ele na esquina, por acaso. Como quem não quissesse nada, perguntou se Tamara estava bem. Eu disse que sim e ele veio me falar que ela parou de respondê-lo, não atendia aos telefonemas e muito menos sim para os insistentes convites pós-balada dele.
Eu disse que ela estava fechada para balanço. Mas a real é que quatro semanas com Carlos foram suficientes para aprender com Carlos o pior. Ela soube não se deixar envolver, esqueceu o sofrimento e repetiu o que Carlos havia feito com ela.