A medida da dor
Muita gente pensa ter uma trema diferente, especial. É como se fosse uma régua que mede sofrimentos baseados em local em que vivem, idade, experiência e tantos outros parâmetros conforme permite a situação. Quando padecem da mesma dor, parecem entrar no outro, pegar a dor dele e colocar ao lado, só para ver qual é maior. É claro, antes já sabem a resposta e se as deles estiverem sendo medidas, elas sempre vão ser maiores. A medição é feita em uma conversa, em que se compara o quanto chora, tem baques, idade do sofredor… Cada uma é como se fosse um centímetro ou mais, tudo em uma soma que vai mostrar o tamanho da dor no final.
Só que o sofrimento não é matemático. Sofrer está longe de ser competição para proclamar um campeão. Quem faz essas comparações me passa a sensação de que está “feliz” em ocupar o primeiro lugar do pódio das dores do mundo e que o perdedor é um alienígena por “sofrer menos”.
Eu não gosto, faço de tudo para as minhas dores pesarem menos na minha alma. Inevitável não ficar triste com alguns acontecimentos, mas andar por aí ostentando sofrimento está longe de ser a melhor alternativa para mim. De vez em quando sai do controle e fica aparente, também não barro, pois é natural. Talvez seja por isso que quando me veem tiram logo a trema e medem quantos centímetros a mais tem a dor deles. Só que mensurar a dor é delicado, impossível talvez. Mais que isso: desnecessário e ofensivo.
É claro que há alguns que carregam dores que nem são necessárias comentar – são maiores do que de qualquer um. Assim falam sobre as mães e pais que perdem os filhos. Diante deles, os medidores de males nem discutem, pois sabem que vão perder.
E tem outra questão: as pessoas podem ter dores inquestionáveis, como as perdas, mas também podem sofrer por coisas que fogem ao entendimento. Para uns não é nada, para outros é o fim do mundo. Um dramático inveterado transforma tudo que vê por aí em motivo para lágrima e reclamação, já quem vive mais leve e desapegado do que acontece com ele terá uma forma menos penosa de encarar os obstáculos do dia a dia.
Eu discordo do Frejat quando ele diz que todo mundo é parecido quando sente dor. Não é! Cada um tem uma forma. Às vezes é mais recolhida, noutras fica estampada no rosto nas ações. Porém, eu tenho certeza, é desnecessário comparar dores. Ninguém sabe o que acontece de verdade no fundo da alma do outro.