Calendário da saudade
Os ventos de agosto nunca me deixaram feliz. O mês é feio, cinza e o senso comum de dizer que é o mês do desgosto tornou-se uma realidade para mim, pelo menos em 2013. Primeiro, a antipatia era por causa da feiúra mesmo e de tantos ditos populares. Depois, ficou marcado por ser o mês que minha mãe foi para o hospital e partiu. Em uma sexta-feira, 16 de agosto, o vento me soprou uma notícia que eu jamais queria escutar, embora o céu fosse de um azul tão bonito quanto o que vi hoje, em uma tentativa vã de me deixar menos triste.
Uma semana depois da perda, as sextas passaram a ser indigestas também, pois acordei com o telefone que tocava insistentemente para irmos ao hospital três horas antes do horário de visitas em uma feliz sexta para muitos. Eu já sabia o que tinham a dizer, mas guardava lá no fundo a esperança de ser a saída dela do CTI. Um mês depois, não só as sextas passaram a ser mais doídas, os dias 16 me arrancavam mais lágrimas do que de costume também.
O calendário é mais uma lembrança de que a pessoa não está mais ali. No entanto, após alguns meses as sextas passaram a me sacolejar menos e os dias 16 também. Especialmente depois do segundo 16 de agosto sem ela, passei a contar mais os anos, que agora somam dois e vivi outra realidade – de que em todos os dias, meses e datas coisas boas e ruins podem acontecem, não existem tempos amaldiçoados. O que não quer dizer que os meses com más recordações sejam irrelevantes.
E cá estou eu diante de mais um agosto, outro dia 16. Lembrei-me de tudo que aconteceu há dois anos, porém com menos sofrimento e mais saudade. Quando o mês começou, o vento frio trouxe tudo de novo e parecia que eu acabava de receber a notícia da doença e depois das complicações da cirurgia. A rotina fez com que eu levantasse a cabeça e deixasse minha dor um pouco menos intensa, também me forcei a isso e cheguei ao 16 mais forte, menos chorosa, pois tudo foi aos poucos amenizado.
Parece não fazer sentido que a realidade da ausência apareça mais forte em determinados dias, datas e principalmente contá-los, como se fossem parte de uma coleção. Só que parei para pensar – o que mais ouvi das pessoas que foram me consolar é que só o tempo diminuiria os sintomas do luto. Pode ser que seja por isso que contei tantas sextas, dias 16 e agora agostos, queria saber quanto de tempo seria necessário para que a dor passasse. E olha, por completo parece que ela não vai embora.
Porém, o tempo realmente é terapêutico, mesmo que ele sozinho pouco resolva. Sem contar que às vezes é junho, meu mês preferido, e parece ser 16 de agosto de 2013, de tanto que dói. O luto é complexo – a tristeza pode aparecer de forma repentina, em uma segunda-feira em que aparentemente nada de mais ocorreu.
E para mim, o calendário, desde 16 de agosto de 2013 passou a ter a saudade dos mais diversos jeitos como certa, às vezes menos doída, às vezes mais e até em forma de sorriso.