O único engarrafamento possível em cidadezinhas
Dizem que em cidades bem pequenas não há engarrafamento. Quem for por esse pensamento vai se dar mal porque tem um dia no ano que existe sim. Uma vez fui para Itapecerica, Minas Gerais, e assustei quando fiquei presa entre os carros e buzinas. Eu e todos que estavam no carro ficaram surpresos. Só quando vimos um caminhão com a imagem de São Cristóvão é que nos demos conta que era uma carreata religiosa, uma procissão.
Era 25 de julho, como hoje. O santo, protetor dos motoristas e viajantes, é o único que tem o privilégio de ser homenageado de carro. Todos os outros são levados pelas ruas da cidade a pé. Acredito que em muitas localidades o dia de São Cristóvão é o que mais concentra carros. Talvez a aglomeração de carros nas cidades pequenininhas só aconteça nos dias de final de campeonato e às vezes com algum resultado de eleição. Carreata é tradição nas pequenas do interior, é bem mais forte do que nas cidades grandes.
Nas cidadezinhas basta disposição para caminhar que é possível chegar ao destino. Muitos optam pelas bicicletas, mas carro é raridade. Assim, tirá-lo da garagem é por um motivo maior mesmo, normalmente, porque se trabalha como motorista ou em um lugarejo vizinho por exemplo. Como são muitos os perigos da estrada, não há um católico que deixe o carro na garagem no dia de São Cristóvão.
Assim é que se formam os engarrafamentos no interior, com muita fé, mais do que com carros. Ninguém quer abrir mão da benção. Para turistas, católicos pouco praticantes (como eu, confesso), até acham que as cidadezinhas estão mesmo parecidas com os grandes centros. Mas não estão, o interior ainda mantém deliciosas e significativas tradições. Eu já vou me arrumar para sair neste sábado, pois a procissão de Ibitira ainda não começou. Custa nada eu ficar presa, aí nem vou me importar, aproveitarei para rezar, bora!