Telefone sem fio e chato dos namorados

Telefone sem fio e chato dos namorados

A conversa é sobre amor ou as rusgas que ele provoca de vez em quando – ciúme, o apego excessivo do par, a falta de ar na relação, a indiferença do outro ou muitas etcéteras capazes de causar desentendimentos. A segunda conversa é terrível, né? É a chata da DR.

A primeira também pode ser – sabe quando?

Se há uma terceira pessoa que a ouve. Papo de namorado só é bom para os dois, ou nem isso, às vezes é péssima até pros dois. Caso o destinatário das palavras não esteja lá tão apaixonado é um porre também mesmo que tudo que lhe chegue aos ouvidos venha muito açucarado. Se o namoro ou casamento vai mal, é péssimo para ambos. Imagine para quem é obrigado a escutar…

Sim, porque é grande o número de pessoas que pouco querem intimidade na hora de falar com o parceiro. Aproveitam a viagem de ônibus ou o tédio no trabalho para pegar o telefone e ligar pro namorado. Tem algo pior que a vozinha de bebê, as palavras açucaradas ou a DR no ouvido de quem nada tem a ver com a conversa?

Tá certo que há quem goste de escutar como se fosse uma novela, mas na maioria das vezes cansa, chateia. É ainda mais sem graça quando a pessoa quer é se mostrar, contar vantagens por ter alguém ou chamar atenção se as coisas vão mal. Em vez de mostrar como a vida está boa, ou uma merda, faz é papel de bobo. Se tem um ditado que acredito é que “em briga de marido e mulher ninguém mete a colher”, porém se um dos dois deixa todo mundo saber de tudo, pouco pode se queixar de ter que ouvir palpites.

Vale para os momentos bons também. Felicidade a dois é coisa muito excêntrica, convém falar sobre o que faz felizes ao telefone pra todo mundo ouvir não. O amor tem poder de nos ridicularizar, ninguém precisa saber dos apelidos, lugares esquisitos que fizeram sexo ou dos planos simples ou loucos… Uma declaração de amor que dura três horas, ou um minuto, nunca precisou de testemunha ao telefone. Amor ao telefone não dá certo, apaixonado esquece o texto. Apaixonado se atrapalha com as palavras mesmo que tenha ensaiado durante horas, vira criança no telefone e soa muuuuuiiiiiitoooo esquisito. Só quem está do outro lado da linha pode não estranhar, achar até bonito. O amor é brega, e lindo, além de necessário, claro.

Evidente que ter um amigo confidente, ou mais, é ótimo e bem diferente de gritar o amor no telefone. Resolve desabafar, é feliz contar sobre a alegria com o par porque é uma conversa, não uma situação da qual é difícil escapar, como ônibus e trabalho. É por isso que os fones de ouvido fazem tanto sucesso, mas às vezes, no trabalho, por exemplo, o jeito é tolerar e fingir que nada ouviu. Há casos de empresas que proíbem o fone para que os funcionários sejam mais produtivos e mal sabem que os namorados usam o telefone, da própria firma em alguns momentos. Nem imaginam o quanto o ouvinte forçado trabalharia mais feliz por ser poupado dos detalhes sórdidos ou apenas desnecessários.

Escritor por Talita Camargos Veja todos os textos deste autor →

Talita Camargos é jornalista e flerta com a literatura, procura inspiração em conversas de ônibus, flores, familiares e amigos. Idealizou o Texto do Dia e publicou nos 365 dias de 2015 neste blog como desafio pessoal.

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